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Marafações de uma Louletana

Blog sobre Loulé e as suas gentes

Blog sobre Loulé e as suas gentes

Marafações de uma Louletana

15
Set11

Património Louletano (IX) - Igreja Matriz de Alte

Lígia Laginha

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Hoje voltamos a abordar o património existente no Concelho de Loulé e vamos até Alte, freguesia do interior, uma das aldeias mais rústicas de Portugal, dotada de grandes tradições e rica em belezas naturais e patrimoniais. Destas últimas destaca-se a Igreja Matriz:

 

Do núcleo de imaginária existente na Matriz de Alte, composto por quinze exemplares de madeira, destaca-se a imagem de Santa Margarida. Outrora era o orago de uma pequena ermida situada na freguesia, presentemente em ruínas, no sítio de Santa Margarida.

De referir o dinamismo sugerido pela posição curvilínea do corpo e dos braços da santa e pelo dragão, de cauda agitada e boca aberta. Para além da palma de mártir, sobressai o dragão fantasiado, de grandes dimensões, que está sob os pés da santa, atributo comum aos primeiros evangelizadores de uma região idólatra.

Pelas suas características formais e iconográficas pode inserir-se na época barroca, concretamente no segundo quartel do séc. XVIII, levantando a hipótese de ter sido feito pelo melhor escultor algarvio, o mestre Manuel Martins.

Dona Bona, mulher de Garcia Mendes de Ribadaneyra, 2° senhor de Alte e 1° vidama do Algarve, terá fundado nos finais do século XIII, a igreja matriz, consagrada a Nossa Senhora da Assunção, "em acção de graças por seu esposo ter regressado da oitava cruzada à Palestina " (Isabel Raposo, Alte na roda do tempo, ed. Casa do Povo de Alte, 1995, p. 134).

O templo então construído refere-se seguramente a uma capela particular, que não estava sujeita a jurisdição do Bispo de Silves nem à Ordem Militar de Santiago, detentora do padroado dos templos existentes no termo de Loulé. Só assim se justifica não vir incluída na listagem dos benefícios taxados em 1321, respeitantes a templos localizados no bispado do Algarve.

Na Visitação da referida Ordem, de 1517-1518, é indicado a propósito do templo actualmente correspondente à igreja matriz: " achámos, por informação que disso tomámos, que a dita ermida foi fundada de novo pelos moradores de redor dela e eles a tornaram a fazer de novo como está e se faz à custa deles "(Suplemento da Revista Al'ulya, n° 5, 1996, p. 94).

Em 1534, na Visitação seguinte, continua a ser uma ermida pertencente a freguesia de S. Clemente de Loulé, cujo mordomo, Jerónimo Matoso, é morador na aldeia de Alte ( As Visitações da Ordem de Santiago ás Igrejas do Concelho de Loulé. Ed. SEC.-Faro,1993 ).

Finalmente, em 1554, já é referida pelos Visitadores de Santiago como Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e correspondentemente como sede de freguesia. (Visitação de Igrejas Algarvias da Ordem de Santiago de 1554, Ed. ADEIPA, Faro,1988).

O terramoto de 1755 provocou alguns danos neste templo, que prontamente foram reparados, destacando-se a abertura de dois óculos elípticos no frontispício e a renovação da ornamentação interior de diversas capelas.

A última grande campanha de obras foi realizada em 1829. Os responsáveis tiveram a preocupação de a sinalizar convenientemente, colocando dois algarismos dessa data de cada lado da tarja que remata o portal principal. Vejamos as intervenções então realizadas: no frontispício da igreja - a construção de uma nova empena em massa e a abertura de um janelão emoldurado de cantaria e rematado por um frontão triangular; no interior do templo - o engrossamento com argamassa das arcarias e das colunas, incluindo embasamentos, fustes e capitéis e a colocação de novos retábulos de madeira em diversas capelas.

Inexplicavelmente, o templo que estava a ser concluído em l518, já com três naves, foi reconstruído por volta de 1538, sendo então utilizado o formulário manuelino. Sobrevivem como interessantes testemunhos dessa época a cobertura abobadada da capela-mor "com três arcos e represas de pedraria" e o portal principal "com seu sobrearco e pilares de pedraria (...) e nele uma tarja com uma cruz e os Mistérios da Paixão".

Em 1554 as obras estavam praticamente prontas, faltando somente terminar o campanário, cujo portal de acesso, de verga recta com diversos emolduramentos perspectivados, já utiliza as normas renascentistas. Deste período era também o retábulo da capela-mor, já desaparecido, que constituía um interessante exemplar da talha algarvia, de marcenaria.

As quatro capelas laterais do lado do evangelho foram ornamentadas com talha entre 1751 e 1789, período em que vigorou na região algarvia o formulário Rococó.

Desses retábulos sobressai o da capela do Morgado, em cujo remate se ostenta o brasão dos Condes de Alte. Trata-se do exemplar mais erudito, com planta em perspectiva côncava, estrutura tetrástila com banco, corpo e ático. As colunas têm o fuste compósito e o vocabulário ornamental acusa duas fases distintas, uma com concheados e cabeças de anjos e outra mais tardia, provavelmente resultante de uma intervenção oitocentista.

Os restantes retábulos são mais modestos, parecendo ter sido executados pela mesma oficina, de modesto estatuto. Apresentam planta plana ou recta, estrutura tetrástila mas sem colunas, prolongando-se a talha pelo arco.

Dos nove retábulos que ornamentam as capelas deste templo, somente o de Nossa Senhora do Monte do Carmo se integra na época barroca, tendo sido construído entre 1735 e 1751, período em que vigorou na região algarvia formulário `joanino".

Desconhece-se o responsável pelo risco e pela feitura da talha. Trata-se, no entanto, de um artista farense de muita cotação, provavelmente Tomé da Costa, genro e continuador da oficina de Manuel Martins.

Apesar de se tratar de um exemplar de modestas dimensões, utiliza a tipologia mais frequente no Algarve: planta plana, composição tetrástila com banco, corpo e ático. A ornamentação utiliza principalmente a folhagem de acanto, tratada com exuberância. As colunas têm o fuste compósito, prenúncio da transição para o Rococó.

Num anexo da igreja matriz, onde se expõe um pequeno núcleo museológico de arte sacra, encontram-se duas tábuas maneiristas, que parecem cobrir pintura muito mais antiga. Representam S. Lourenço e S. João Baptista, necessitando ambas de uma urgente intervenção de conservação e consolidação.

Devem ter pertencido ao retábulo outrora existente na capela lateral do lado da epístola, dedicado a S. Sebastião, tendo sido substituídas no século XIX por telas com representações idênticas.

Apesar de se desconhecer a identidade do mestre que as pintou, elas foram seguramente executadas, nos finais do século XVI, por uma oficina local, provavelmente sediada na cidade de Tavira, pois apresentam semelhanças com uma tábua existente na Igreja Matriz de Santiago desta cidade.

O intradorso da capela lateral do lado da epístola, dedicada a S. Sebastião, está revestido com azulejos de superfície lisa, de padrão polícrome, identificados por Santos Simões como exemplares de fabricação sevilhana do último quartel do século XVI, misturados com alguns exemplares da primeira metade do século XVI.

A escadaria de acesso ao púlpito foi revestida com azulejos figurativos reaproveitados da capela de Nossa Senhora do Carmo, provavelmente após o terramoto de 1755.

Os azulejos mais interessantes encontram-se nas paredes laterais e na cobertura da capela-mor. Representam anjos músicos rodeados por nuvens e cabeças de serafins. Foram colocados neste templo na primeira metade do século XVIII, provavelmente pelos irmãos Borges, os principais assentadores.

 

10
Set11

Património Louletano (VIII) - O Castelo de Salir

Lígia Laginha

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Numa altura em que decorre o "Salir do Tempo 2011" aqui ficam algumas notas sobre o património histórico desta magnífica região do interior louletano. 

 

Em Salir existiu uma povoação rural islâmica, inicialmente uma alçaria não fortificada, com casas dispersas, em contacto directo com campos agrícolas e pequenas hortas e pomares. Da inicial defesa comunitária da povoação (castelo-celeiro, com abundância de silos) surgiu, no período almóada, uma fortificação de taipa, da qual restam apenas quatro torres e panos das muralhas incorporados em construções que lhes sobrepuseram.

Quem chegue ao morro do castelo pela encosta sudoeste depara com a primeira torre, entre os muros de um grande edifício, voltada para uma ruela que acompanharia o exterior da muralha sul. Seguindo por uma estreita rua, para norte, chega-se à segunda torre, designada por Muro Maior (torre albarrã), que se localiza sobre a encosta poente, junto à área onde as escavações arqueológicas pusera a descoberto um tramo de muralha e um conjunto de edifícios dos séculos XII-XIII. Sobre a encosta norte encontra-se outra, num forte declive da rocha e já muito destruída. A nordeste fica a Torre chamada de Alfarrobeira, também construída sobre o forte declive da rocha.

As escavações arqueológicas, em vias de integração museológica, revelaram silos (num total de dez) e canalizações, que terminaram em aberturas na muralha; uma estreita ruela, com 1,80m de largura, também a terminar na muralha; e estruturas habitacionais. Apesar de incompletas (as escavações em pleno centro urbano efectuaram-se apenas num pequeno quintal), pode considerar-se que as casas almóadas de Salir são pequenas, simples e pobres construções de taipa com base de pedra, agrupadas num bairro periférico encostado à muralha poente.

O material arqueológico recolhido abrange uma cronologia entre finais do século XI, inícios do século XII e, sobretudo, dos séculos XII/XIII, quando a povoação se encerra no interior do recinto fortificado.

Os vestígios encontrados revelam uma densa ocupação almóada. Mas a alçaria de Salir é certamente anterior a este período, facto confirmado em prospecções arqueológicas e pelo achado de uma lápide funerária, datada de inícios dos séculos XI (lápide obituária de Ibne Said, que faleceu em 1016), encontrada em terrenos localizados a sul do castelo, onde estaria o cemitério islâmico.

A reconquista de Salir foi consumada (a data é incerta) pelos cavaleiros da Ordem de Santiago, sob o comando de D. Paio Peres Correia, a seguir à conquista de Tavira. Ocupada a povoação (as escavações revelaram restos de armas em camadas de incêndios), e aqui se delineou a estratégia para a reconquista de Faro e de Loulé.

 

Nota:

 

1. Esta informação foi retirada de CATARINO, Helena – O Algarve Islâmico: Roteiro por Faro, Loulé, Silves e Tavira, s.l., Comissão de Coordenação da Região do Algarve, s.d.

02
Set11

O Arquivo Municipal de Loulé

Lígia Laginha

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

O Serviço de Arquivo Municipal foi criado na dependência orgânica do Departamento Administrativo pelo Aviso n.º 1815-A/2005 (2.ª série), Diário da República, n.º 56, de 21 de Março de 2005, Apêndice n.º 38. Este Serviço unificou numa só estrutura, as atribuições, funções e objectivos específicos dos chamados Arquivos Gerais e do Arquivo Histórico Municipal.

As novas instalações do Arquivo Municipal foram inauguradas por Sua Excelência o Presidente da República, na presença do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Loulé, no dia 4 de Agosto de 2007.

A infra-estrutura arquivística foi construída no interior das fachadas de um edifício com história. No início do século XIX serviu de aquartelamento aos 25 homens da guarnição francesa que, a 18 de Junho de 1808, se renderam ao Major José da Costa Leal e Brito.

Já no século XX teve diferentes usos, designadamente enquanto sede do Sindicato Nacional dos Sapateiros do Distrito de Faro e Escola Primária. A 7 de Julho de 1993, quando servia ao comércio de empreita, palma e chapéus, foi destruído por um incêndio.

O novo edifício teve o apoio da Direcção Geral de Arquivo (ex-IAN/TT), no âmbito do PARAM, em resultado do Acordo de Colaboração celebrado a 2 de Outubro de 2001 entre aquele organismo e a Câmara Municipal de Loulé, também contou com financiamento do PROAlgarve.

O Arquivo Municipal passou assim a oferecer instalações modernas e funcionais aos investigadores e aos Serviços da Câmara.

Os 4 depósitos localizados na cave, no rés-do-chão e no 1.º andar, têm capacidade para 4.521 metros de documentos, controlo individual e remoto de temperatura e humidade e protecção contra fogos através do sistema de extinção INERGEN.

No 1º andar, a Sala de Leitura dispõe de 13 secretárias individuais.

Há ainda diferentes espaços para actividades de âmbito educativo e cultural.

Também os documentos de valor administrativo de utilização menos frequente que estavam depositados um pouco por todo o edifício da Câmara Municipal de Loulé são agora preservados, organizados e comunicados em instalações planeadas para responderem às necessidades específicas dos arquivos. Igualmente a incorporação dos documentos do até então existente Arquivo Histórico foi de capital importância para a salvaguarda do seu espólio.

No que respeita à documentação mais antiga, Loulé possui um rico acervo documental, tanto pela raridade de alguns dos seus documentos, como pela antiguidade e sequência temporal das séries, destacando-se as Actas de Vereações (desde 1384), Correspondência (desde 1761), Tombos e Inventários (desde 1738), Autos de Arrematação (desde 1530), Receita e Despesa (desde 1375), Impostos (desde 1469), Eleições (desde 1559), Justiça (desde 1438), Actividades Económicas (desde 1412), Expostos (desde 1703), Juiz dos Órfãos (desde 1406), tal como documentação oriunda do Administrador do Concelho de Loulé, das Corporações Religiosas, das Sociedades Recreativas e dos Sindicatos sediados em Loulé.

 

Morada:
R. Cândido Guerreiro, s/n. 8100-681 Loulé

 

Horário de Funcionamento:

Segunda a Sexta

9h00-12h30 e 14h00-17h30

 

Telefone:
289 400804


25
Ago11

Património Louletano (VII) - Ermida de Nossa Senhora da Conceição

Lígia Laginha

 

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Hoje voltamos a falar de património e a escolha recaiu sobre a Ermida de Nossa Senhora da Conceição:

 

As origens deste pequeno templo remontam a meados do século XVII. Pensava-se que tinha sido construído da parte de fora das muralhas medievais, adossado a uma das portas então existentes, no local onde as Visitações da Ordem Militar de São Tiago de 1565 referem ter existido um nicho. No entanto, novas revelações vieram pôr de parte esta suposição. 

Na sequência da Restauração da Independência, nas Cortes de 1646, D. João IV emitiu um voto de acção de graças, consagrando Nossa Senhora da Conceição padroeira de Portugal. Ordenou, então, que se colocasse às entradas das cidades e vilas uma lápide evocativa deste acontecimento. A lápide existente na fachada principal da Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Loulé parece corresponder, não só aos desígnios do Rei D. João IV, mas também ao impulso que motivou a construção do templo, surgindo a data de 1656 como o ano provável do início das obras.
Para além dos elementos característicos do Estilo Chão, detectáveis na utilização da planta de nave única e na sobriedade da fachada, nomeadamente nos vãos e nos enrolamentos do ático, referem-se como especificidades deste templo, a ausência de capela-mor, o revestimento total da fachada da Ermida com cantaria e o encontrar-se ladeada por habitações.
Em meados do século seguinte, a Confraria de Nossa Senhora da Conceição das Portas da Vila foi responsável pela renovação da ornamentação interior da Ermida, resultando desta intervenção uma das mais interessantes manifestações artísticas setecentistas do Algarve. No entanto, algumas intervenções posteriores têm descaracterizado a ornamentação deste templo: a abertura de uma porta na parede do lado do evangelho e a consequente destruição de um dos painéis de azulejaria; a construção de um coro alto; a pilhagem de azulejos na parede do fundo e a completa destruição da pintura da cobertura, restando somente uma tela pintada e em mau estado de conservação.
Foi classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei nº35443, de 2 de Janeiro de 1946.
Entre 1743 e 1747 foram eleitos como responsáveis desta Confraria, Diogo de Sousa e Sarre, para Juiz, Henrique da Costa Pestana, para Escrivão, e Brás Camacho Navarro, para Recebedor. Apresentavam como projecto ornamentar o interior do templo. Para tal contrataram, no dia 20 de Dezembro de 1743, com o escultor farense Miguel Nobre, a feitura do retábulo, pelo preço de 350 réis. O dito escultor deveria fazer esta obra "conforme o risco que se lhe entregou" e transportá-la de Faro para Loulé, dando o trabalho concluído até 1745.
Por sua vez, Diogo de Sousa e Sarre, o mais prestigiado pintor algarvio, comprometeu-se, juntamente com o seu colega de ofício, Rodrigo Correia Pincho, também morador em Loulé, a dourar, pintar, estofar e encarnar, não só a talha mas também as imagens do Arcanjo S. Miguel e do Anjo da Guarda, até ao dia da padroeira, no ano de 1747.
O retábulo, enquanto elemento proeminente do conjunto arquitectónico, determinou o programa decorativo a realizar. A "cornija" de Talha, que percorre as paredes da Ermida, é a continuação do entablamento do retábulo e serve de delimitação aos painéis de azulejaria figurativa, cujo esquema iconográfico é a continuação da temática mariana, já apresentada no retábulo.
Atendendo a que a talha deveria estar colocada no seu lugar até Dezembro de 1745, é natural que a azulejaria tenha sido posta simultaneamente, desconhecendo-se não só a oficina lisboeta que a realizou, mas também o mestre local que a encomendou e assentou.
Os azulejos apresentam já alguns elementos do formulário rocaille, nomeadamente nos concheados das cercaduras das cartelas, onde se lêem inscrições latinas.
O esquema iconográfico apresentado no retábulo, permite-nos conhecer as devoções desta Confraria e, particularmente, dos seus responsáveis.
O local das diversas representações escultóricas obedece a uma hierarquia. A imagem de Nossa Senhora da Conceição, orago deste templo, ocupa o lugar principal, no centro da tribuna. Segue-se o Menino Jesus, colocado no nicho superior. Depois surge Sant'Ana, a mãe da Virgem, no centro da banqueta. O pai e o marido da Virgem, respectivamente, S. Joaquim e S. José, preenchem as peanhas dos intercolúneos. Finalmente, sem ligação com a temática mariana, o Anjo da Guarda e o Arcanjo S. Miguel estão na banqueta ao lado de Sant'Ana.
Pelas afinidades formais de todas estas esculturas com as restantes representações figurativas existentes no retábulo, pode-se deduzir terem sido feitas pelo mesmo entalhador, o mestre Miguel Nobre.
Na "Monografia do Concelho de Loulé", Ataíde de Oliveira refere que "o tecto desta Ermida em 1841 estava maravilhosamente pintado pelo insigne pintor desta vila, o célebre Joaquim José Rasquinho. Hoje essa pintura foi substituída por trabalho a gesso (...) tendo ao centro um lindo quadro alusivo à assumpção da Virgem, obra do nosso insigne pintor Rasquinho, e que, antes da reforma do tecto, já ali existia".
É provável que a cobertura deste templo apresentasse uma ornamentação coeva e semelhante à que hoje existe na Ermida de Nª Srª da Piedade, em Loulé, onde no meio da pintura em perspectiva e do período rocaille, pontua uma tela respeitante à padroeira.

A Câmara Municipal de Loulé, conjuntamente com a Paróquia de S. Clemente, candidatou a Ermida de Nossa Senhora da Conceição, de Loulé, ao Prémio Igreja Segura, organizado por várias entidades nacionais, entre elas o Instituto Superior de Polícia Judiciária. Após o concelho de Loulé ter ganho o Prémio Igreja Segura, no ano de 2005, a autarquia começou a desenvolver esforços para a recuperação do referido espaço. No ano de 2007 iniciaram as obras de conservação e restauro das estruturas interiores e exteriores. Durante este período procederam-se a escavações no interior deste espaço religioso, que vieram a revelar a existência da Porta de Portugal (uma das portas do castelo, cuja localização era desconhecida) no interior da Ermida. No mesmo período, quando se estava a retirar o reboco da parede de fundo da sacristia, ficou a descoberto um dos torreões do castelo.

No dia 29 de Novembro, de 2008, pelas 15h, procedeu-se à cerimónia de inauguração do restauro da Ermida de Nossa Senhora da Conceição, tendo sido apresentado o livro “Plano de Emergência Interno. Projecto Igreja Segura – Igreja Aberta”, mais um instrumento para a salvaguarda e protecção do património material.

 

Nota:

 

A Ermida de Nossa Senhora situa-se na Rua Dom Paio Peres, em Loulé, e pode ser visitada nos seguintes horários*:

 

- De segunda a sexta: das 10h00 ao 12h30 e das 14h às 19h

 

- Sábados: Das 9h30 às 14h.

 

* Estes horários correspondem ao periodo de Verão que decorre até 17 de Setembro. 

20
Ago11

O Cine Teatro Louletano

Lígia Laginha

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Hoje falamos de um ex-libris da Cidade de Loulé: O Cine Teatro Louletano

 

O Cine Teatro manteve-se ao longo de 75 anos de existência como propriedade da Sociedade Teatral Louletana, constituída em 1925 com o objectivo de “construir um teatro e suas dependências, a respectiva exploração em todas as suas manifestações de arte dramática, lírica, cinematográfica, concertos musicais, serões e conferências artísticas e em tudo o mais que lhe é próprio, excepto comícios políticos”. De entre o nome dos seus fundadores estavam Alberto Rodrigues Formosinho, António Maria Frutuoso da Silva, Artur Gomes Pablos, David Evaristo d'Aragão Teixeira, Dr. Joaquim Cândido Pereira de Magalhães e Silva, José da Costa Ascenção,José da Costa Guerreiro, José Martins Júnior e Manuel dos Santos Pinheiro Júnior que investiram um capital social de 180 contos divididos em nove quotas de 20 contos, ao qual se juntaram dois terrenos, um deles adquirido em hasta pública à Câmara Municipal de Loulé.

A inauguração oficial do teatro deu-se a 19 de Abril de 1930 mas, entre 15 e 23 de Março, já funcionara como cinema.

Na inauguração actuou a Companhia Teatral, da grande actriz Ilda Stichini, da qual faziam parte os artistas Clemente Pinto, Luz Veloso, Luís Prieto, Joaquim Oliveira, Alves da Costa, Maria Lagoa, Fernanda de Sousa e outros mais. Apresentaram a peça “Se eu quisesse”; no segundo dia “Os Filhos” e no terceiro “O Tambor e o Guiso”.

Para além das autoridades concelhias, estiveram, presentes nesta cerimónia autoridades distritais como o Governador Civil, o Secretário Geral e outras, além de muitos populares de Faro, Olhão, S. Brás, etc..

Durante décadas passaram por este palco grandes figuras da cena como Alves da Cunha, Berta de Bívar, Chaby Pinheiro, companhias de revista, etc., e mais recentemente alguns dos melhores actores nacionais como Maria do Céu Guerra ou Raul Solnado.

No que concerne ao cinema, foram ali projectadas películas de fama mundial que encheram por completo aquela que é considerada a mais importante sala de espectáculos do Algarve.

Após vários anos de negociação difícil e burocrática com os proprietários do Cine Teatro Louletano, a Câmara Municipal de Loulé adquiriu, em 2003, este ex-líbris cultural da cidade, do concelho e de toda a região. Ao longo dos tempos, o papel desempenhado pela autarquia em termos de promoção dos eventos realizados neste espaço, bem como da manutenção do edifício, foi fundamental para que o Cine Teatro não fechasse as suas portas ou não chegasse mesmo a ser demolido, apesar deste ser um edifício de domínio privado.

Ao longo dos anos, a Câmara Municipal tem levado a efeito obras de conservação e modernização deste imóvel de forma a satisfazer as exigências dos espectáculos de qualidade que, cada vez mais, farão parte do cartaz de animação deste local, com excelentes condições acústicas e de espaço para acolher grandes eventos, oferecendo uma maior comodidade aos seus usufruidores.

 

11
Ago11

Património Louletano (VI) - O castelo de Loulé

Lígia Laginha

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Hoje falemos um pouco de um dos atributos patrimoniais de maior importância da Cidade de Loulé: O castelo.

 

O castelo de origem árabe, reconstruído no séc. XIII, possuía um grande perímetro amuralhado, parte do qual ainda é visível.

Voltada para a Rua da Barbacã destaca-se uma torre albarrã, de alvenaria, datada da Baixa Idade Média. Outra das torres visíveis é a denominada Torre de Vela, também esta uma torre albarrã, de taipa, localizada na antiga Rua da Corredoura, actual Rua Engenheiro Duarte Pacheco, e perto desta destaca-se a Porta de Faro, que ainda conserva traços da primitiva construção almóada. No arrabalde sul, ou Mouraria, à saída da Porta de Faro, após a reconquista, foi destinada uma área aos mouros forros que receberam foral de D. Afonso III, em 1269. Era nestas ruas que estariam localizadas as instalações artesanais, a comprovar pelos topónimos outrora ou ainda hoje existentes.

Não existem vestígios da primitiva alcáçova, no entanto pressupõe-se que estaria situada no mesmo local onde hoje se encontra a alcaidaria que alberga vários espaços culturais (Museu Municipal; Cozinha Tradicional; Centro de Documentação com hemeroteca, fototeca, bibliografia e estudos variados sobre a história local e regional, personalidades, acontecimentos e outros).

Conservam-se, pela cidade, as muralhas almóadas de taipa, construídas, ou pelo menos, reforçadas no século XII, as quais são visíveis em pequenos tramos, camuflados por casas que foram sendo construídas adossadas à mesma, e outros panos de muralha que foram sendo descobertos em recentes intervenções efectuadas pela autarquia.

 

Nota:

 

1. A marafada faz saber que a partir desta semana e até 17 de Setembro os espaços visitáveis albergados pelo Castelo (Cozinha tradicional e Museu de Arqueologia) possuem o seguinte horário:

 

- De segunda a sexta-feira: 10h00 - 19h00

- Sábado: 9h30 - 14h

 

Visite-nos! 

19
Jul11

As Bicas Velhas de Loulé

Lígia Laginha

 

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Loulé, como qualquer outra urbe algarvia que se preze, possui ainda uma fonte, fonte esta designada de "Bicas Velhas".

No livro do já referenciado neste blog Pedro de Freitas, "Quadros de Loulé Antigo", pode ler-se: "As quatro bicas  datam de 1837, e foram feitas do material do primitivo sino do relógio, que servira na torre da Matriz e ainda fora colocado na torre das muralhas, que, por estar arruinado, foi fundido neste ano. Estas bicas eram alimentadas por um potente filão de água. Raramente secavam na maior força do calor, e além de alimentarem numerosa gente com o precioso líquido, abasteciam o tanque das lavadeiras, que existia ao fundo, e mais o grande chafariz onde os animais bebiam."

Na parte superior da fachada passa muitas vezes despercebida uma pedra bem mais antiga, com a representação de uma mulher alada de pernas abertas… Foi tirada do convento da Graça, de que restam, aliás, só ruínas…

Na actualidade, as Bicas Velhas continuam a jorrar e muitos ainda bebem da sua água, como de resto ontem, ao por lá passar, constatei.

A marafada apela para que numa das próximas vezes que visitem Loulé não se esqueçam de ir espreitar esta beleza patrimonial que muitas vezes passa quase incógnita perante a grandeza do património que a rodeia.

 

09
Jul11

O Hospital de Loulé e a Igreja de Nossa Senhora dos Pobres

Lígia Laginha

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Ontem foi inaugurado o reconstruído Hospital de Loulé. Falemos então um pouco do que este Hospital e a Igreja de Nossa Senhora dos Pobres foram em tempos:

 

A Santa Casa da Misericórdia em Loulé foi instituída em meados do século XVI e em 1570, por ordem do rei D. Sebastião, o Hospital ficou sob a sua administração e com a incumbência de receber os que vinham feridos e doentes das campanhas do Norte de África.

Durante parte do século XVII e até à extinção das Ordens religiosas,1833, aadministração do Hospital e da Santa Casa esteve a cargo dos frades agostinhos descalços. Estes últimos instalaram-se naqueles espaços e procederam a obras que passaram pelo situar do albergue e do hospício nos baixios e do edifício do hospital nos altos.

Depois de1833 aIgreja e o Hospício foram totalmente inseridos na estrutura da Misericórdia passando mesmo o templo a designar-se de “Igreja da Misericórdia.

A Igreja, situada entre as duas alas do Hospital, possui um pórtico manuelino, de tipo radeado, semelhante ao da matriz de Monchique. Na mesma fachada rasga-se uma janela por cima da qual se encontra um pequeno nicho sem qualquer ornato. Nele figura uma imagem da Virgem a que os Louletanos chamam de Nossa Senhora do Ó ou Nossa Senhora dos Pobres (por receber no seu regaço aqueles que estavam pobres de saúde).

O acesso à Igreja é feito subindo alguns degraus que foram escavados no adro. A meio do segundo degrau levanta-se um cruzeiro de pedra, obra do mesmo estilo e época do portal.

Tanto o pórtico como o cruzeiro foram classificados Monumentos Nacionais pelo Decreto 9842 de 20 de Junho de 1924.

 

20
Jun11

Património Louletano (V) - O edifício dos Paços do Concelho

Lígia Laginha

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Hove a marafada volta a falar do património louletano e escolheu escrever um bocadinho sobre o edifício dos Paços do Concelho, vulgo Câmara Municipal de Loulé.

 

Assim sendo:

 

Segundo Ataíde Oliveira a Câmara Municipal de Loulé terá estado situada em três lugares diferentes até à sua localização actual: o primeiro, num prédio onde Manuel dos Santos Gallo mandou construir uma cocheira, em frente à cadeia; o segundo, num prédio ao fundo da praça; o terceiro, a sala, junto ao tribunal judicial no Convento Espírito Santo.

O actual edifício da Câmara Municipal de Loulé trata-se de uma construção da primeira metade do século XIX, erguida pelo capitão de Milícias José Rafael Pinto, para aí residir.

A construção deste edifício, que inicialmente confinava pelo sul com um troço da Travessa do Lagar Velho a qual desembocava na Rua do Postigo (actual Rua 9 de Abrli), implicou a destruição de parte do pano da Muralha que corria de nascente para poente.

Em 1842, José Rafael Pinto requereu à Câmara Municipal permissão para englobar no seu prédio aumentando-o o referido troço da Travessa. O requerente comprometeu-se por sua vez a abrir uma passagem, por meio de um túnel, sob o seu prédio em direcção à Praça (actualmente Praça da República) mandando ainda rebocar à sua custa uma Torre da Muralha, sobre a qual se havia erguido uma cúpula para abrigo do relógio público.

A Câmara deferiu o pedido e surgiu a Travessa do Relógio, hoje Rua do Município.

Por falecimento do Capitão José Rafael Pinto herdou este prédio a sua filha, casada com José Cândido de Andrade, residente em Lisboa, que decidiu vender a casa.

A Câmara Municipal e a Vereação da mesma, composta por António Vaz de Mascarenhas, Francisco da Paula Galvão, Joaquim Filipe D´Aragão Valladares, José de Sousa Faísca, Luíz de Albuquerque Rebelo e João Rodrigues Mealha, na Sessão de 2 de Abril de 1884, resolveu adquirir o referido prédio tendo em conta que este estava implantado na então melhor artéria da cidade e a sua dimensão permitia albergar não só a Câmara como outras repartições. A casa foi comprada pela Câmara por 4.800$00 tendo a mesma de contrair um empréstimo para proceder ao pagamento do montante. Nessa altura a Câmara Municipal estava alojada em parte do Convento Espírito Santo, sendo que logo que este convento ficou devoluto o Administrador do Concelho de Loulé tomou conta das chaves e ali se instalou a Câmara e o tribunal Judicial. Esta ocupação foi contestada pelo Estado e só em 7 de Abril de 1861 a Câmara obteve a cedência, a título definitivo, do convento constituída pelos claustros, com exclusão das Celas e mais dependências da ala nascente e sul, tanto do piso superior como inferior.

Na mesma sessão foi decidida a expropriação ou aquisição de um armazém pertencente a José da Costa Mealha, situado no primeiro piso do prédio em questão e do lado poente. No entanto, o armazém não chegou a ser adquirido e José da Costa Mealha aí manteve o seu comércio de palma e esparto, comércio continuado pela sua viúva e por Artur Gomes Pablos. Em data incerta, a Câmara alugou o referido armazém e aí instalou a Tesouraria de Finanças e, depois, o alojamento de praças da G.N.R. Posteriormente, foi então comprado pela Câmara Municipal.

A partir de 1885, no primeiro andar do edifício, funcionaram a Câmara Municipal, a Administração do Concelho e a Repartição de Finanças. Em data muito posterior, nesse andar esteve situado a Repartição do Registo Civil.

O primeiro piso, do lado nascente, foi ocupado por uma esquadra de Polícia Cívica e depois pela G.N.R. No mesmo piso com frente para a Praça, foi alugada uma parte do prédio pela quantia de 4.000 reis mensais, a Manoel Fernandes Guerreiro, para instalação de uma mercearia.

Na outra parte, ou seja, numa divisão com frente para a Praça da República, funcionou durante largos anos, por cedência da Câmara, a Agência da Caixa Geral de Depósitos.

Alguns meses após a Implantação da República, em Fevereiro de 1911, a Comissão Municipal decidiu melhorar as instalações da Câmara e renovar o mobiliário do Salão Nobre, para o qual encomendou mesas e cadeiras idênticas às da Assembleia da República, e um estrado, tendo sido levadas a cabo, no ano seguinte, as obras de restauro dos soalhos, portas, janelas e foi feito um estudo visando a ampliação do edifício. Parte do referido mobiliário pode ser hoje visitado na Alcadaria do Castelo de Loulé.

O edifício conservou durante anos a sua traça primitiva. Em 1942, foi o seu interior remodelado e a fachada alterada, dividindo-se o balcão em diversas janelas, sob projecto do Arquitecto Inácio Peres Fernandes.

Actualmente hospeda a maioria dos serviços municipais, que se estendem pelas diversas zonas do edifício.

 

Nota:

 

1. A informação aqui apresentada foi retirada da obra "Monografia do Concelho de Loulé" de Ataíde Oliveira, de um texto da autoria do Eng.º Luís Guerreiro e ainda da obra "Loulé no século XX" de Isilda Maria Renda Martins.

13
Jun11

Património Louletano (IV) - O Convento Espírito Santo

Lígia Laginha

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Hoje este blog marafado traz-vos um pouco mais daquele que é o espólio patrimonial do Concelho de Loulé. E o eleito é o Convento Espírito Santo:

 

Segundo um documento existente no Arquivo Histórico Municipal de Loulé, Baltazar dos Reis, pregador de Sua Majestade, Ministro e Procurador dos Frades Menores da Ordem de S. Francisco na Província do Algarve, refere que o Convento das Freiras Franciscanas de Nossa Senhora da Conceição começou, em 1684, por uma casa de recolhimento de mulheres desprotegidas situada junta à Ermida de Nossa Senhora dos Pobres.

Em 1693, o Padre João Aguiar Ribeiro solicitou autorização ao Senado da Câmara para que a comunidade religiosa passasse a usar a Ermida do Espírito Santo, administrada por esta edilidade. Após parecer positivo, instalaram-se numa casa contígua a este templo e gradualmente adquiriram mais casas que “foram anexando huas às outras sem regularidade alguma, nem forma de claustro”.

O reconhecimento papal efectuou-se somente em 1711 através de um Breve de Clemente II.

As religiosas, em número médio de trinta, seguiam a Regra Concepcionista, que estava agregada à Ordem de S. Francisco. Tinham como objectivos fundamentais a vida contemplativa, consignada a exercícios de piedade e mortificação.

Como era usual na época, a Igreja tinha uma só nave, com as paredes revestidas de azulejaria figurativa, que foi retirada em 1888. O retábulo era de talha barroca, tendo, em 1737, servido de referência ao douramento de um outro exemplar existente na capela do Santíssimo Coração de Jesus do Convento de S. Francisco de Tavira.

O terramoto de 1755 afectou este edifício: “Caiu muita parte do Convento das Religiosas de que se lhe fez acomodação em uma cabana na sua cerca e saíram muitas para casa de seus parentes com a ordem e a licença do seu Prelado”.

Com a implantação do Liberalismo as Ordens Religiosas foram extintas, tendo este convento encerrado em 1836.

A Câmara Municipal de Loulé e o Tribunal Judicial ocuparam parte das antigas instalações conventuais. A Igreja do Espírito Santo foi desactivada, após consulta aos responsáveis diocesanos e transformada em Teatro, onde actualmente se encontram instalados o depósito e o laboratório do Museu Municipal. A restante parte do Convento foi vendida em hasta pública a dois particulares, que a transformaram em casas de habitação.

Como se afirmou anteriormente, este Convento não teve claustro durante bastante tempo. Em 1785 referia-se ainda a sua ausência.

No entanto, parece ter sido construído na década seguinte. É a dedução que se faz de uma carta da Abadessa, datada de 27 de Fevereiro de 1798, dirigida ao Bispo D. Francisco Gomes de Avelar, informando que “se não fosse o muito que V. Ex.ª dá (…) e as obras que tem feito, não sei se havia fazer estes gastos tão preciosos”.

O claustro sobressai como o elemento de maior relevância, tendo sido determinante na reestruturação arquitectónica e consequentemente religiosa que se impunha realizar.

À semelhança do que aconteceu noutros edifícios religiosos em que se destacou a acção mecenática deste prelado, também aqui se fez sentir o seu empenho ao patrocinar a construção do claustro conventual.

A sua postura assenta em princípios estéticos racionais que oscilam em termos formais entre as normas então em moda, o neoclassicismo e os valores da arquitectura chã, que se mantiveram vigentes na região algarvia por todo o século XVIII.

A obra realizada em Loulé parece filiar-se em termos artísticos nos claustros seiscentistas de um outro ramo franciscano, os Capuchos, de que sobrevive um exemplar nesta cidade, no Convento de Santo António.

Tal como acontecia nos restantes conventos, as cercas constituíam o local onde as comunidades religiosas cultivavam alguns alimentos para o seu sustento.

Com a expropriação dos bens conventuais, a parte norte da cerca deste convento foi cedida, em 1866, ao filantropo Conde Ferreira que nela mandou construir uma escola primária, à semelhança de outras que fomentou no país. Na sequência da desactivação do edifício em 1975 e da criação do Centro Histórico de Loulé, a autarquia assume como imperativo a revitalização do espaço da cerca. Após a demolição da escola, promoveu, em 1989, escavações arqueológicas e o projecto arquitectónico para a futura praça.

Actualmente o espaço outrora ocupado pelo Convento e sua cerca alberga a Galeria de Arte Municipal, bem como o Instituto Superior D. Afonso III.