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Marafações de uma Louletana

Blog sobre Loulé e as suas gentes

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Marafações de uma Louletana

24
Ago11

O que os algarvios comem (XIII) - Figos cheios

Lígia Laginha

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Hoje continuamos a falar dos frutos secos e trago-vos uma das iguarias algarvias que mais se confeccionam com os mesmos: Figos cheios.

 

Então, segundo a Confraria dos Gastrónomos do Algarve, aqui fica a receita:

 

Ingredientes:

Para cerca de 40 figos

  • 1 kg de figos secos ;
  • 250 grs de amêndoa ;
  • 125 grs de açúcar ;
  • 25 grs de chocolate em pó ;
  • 2,5 grs de erva doce ;
  • raspa de limão q.b. ;
  • canela q.b.

Confecção:

A amêndoa é moída. Junta-se-lhe o açúcar, o chocolate, a canela, a erva-doce, a raspa de limão e mistura-se tudo muito bem.
Pega-se nos figos e puxa-se o pé de modo que fiquem com uma forma alongada.
Com uma faca afiada dá-se-lhes um golpe vertical. Por esta abertura enchem-se os figos.
Fecham-se e disfarçam-se por onde foram recheados.
Levam-se ao forno a torrar.

 

Nota:

 

1. Para os figos serem cheios devem ser postos a secar anteriormente, isto é, ser dispostos sobre esteiras de cana ao sol até estar prontos para suportar o corte e serem cheios com a amêndoa e restantes ingredientes;

 

2. Os figos não têm necessáriamente de ser cheios com esta mistura. Há quem os encha apenas com miolo de amêndoa, inteiro ou corto ao meio. Podem também, ao invés de lhes dar um golpe vertical, dar-lhe a forma de uma estrela e colocar-lhe posteriormente os miolos de amêndoa;

 

 

 

 

3. Normalmente, depois de torrados os figos são unidos entre si por uma linha formando uma espécie de colar;

 

4. Bom apetite!

23
Ago11

A época do varejo

Lígia Laginha

 

 

Outrora principal actividade económica do interior algarvio, a cultura dos frutos secos, com destaque para a alfarroba, para a amêndoa e para o figo, continua a ser um dos símbolos do Algarve. Ainda que já poucos se dediquem ao trabalho no campo, chegado o mês de Agosto pode ouvir-se o som do varejo (assim se chama no Algarve a apanha dos frutos secos) um pouco por toda a terra marafada. O varejo é um trabalho duro, não tão duro como no passado devido às melhorias em termos de transporte dos frutos desde do local da apanha até ao sitio onde serão armazenados, e marcadamente manual.

Para o varejo convêm ir logo de manhã bem cedinho, pois a essa hora o calor ainda não aperta, e levar uma bucha, ou seja, uma espécie de lanche que pode consistir num bocado de pão, azeitonas, peixe frito ou toucinho e é consumido quando se faz uma pequena pausa no trabalho. A bucha é geralmente uma altura de convivio entre aqueles que "andam à alfarroba". 

 

Mas afinal o que é o varejo?


O varejo ou apanha dos frutos secos é feito como uma vara bem comprida, de madeira ou de cana, que é utilizada para sacudir os ramos das árvores (varejar) e fazer cair os frutos das mesmas. Os frutos caem no chão, previamente limpo (nós dizemos “arraspar as farrobeiras”), ou então sobre toldos, isto é, panos que são colocados no chão antes de começar a varejar.

Depois de apanhados, os frutos são transportados em alcofas de empreita até aos recipientes próprios onde ficarão armazenados. No caso das alfarrobas e das amêndoas esses recipientes são sacas de linho ou serapilheira, no caso dos figos usam-se canastras grandes de vime e cana.

Para transportar os frutos desde da terra até casa utilizam-se maioritariamente tractores agrícolas, contudo, antigamente, na falta destes transportes, recorria-se aos burros e às mulas.

Chegadas a casa do agricultor, as alfarrobas são guardadas tal qual como se encontram, isto é, ensacadas, já as amêndoas têm de ser descascadas, ou seja, é-lhes retirada a casta externa e depois são colocadas ao sol. Os figos, na sua maioria, são igualmente colocados ao sol sobre esteiras de cana. No passado as pessoas reservavam um sítio próprio no quintal para colocar as esteiras com os figos, a este sítio chamava-se “almenchar”.

Futuramente estes frutos secos, sobretudo a alfarroba, são vendidos a comerciantes que pagam um determinado valor por cada arroba (15 quilos).

Dantes considerava-se o dia 29 de Setembro, dia de São Miguel, como o dia oficial em que terminava o “varejo” e se iniciava o chamado “rabisco”. O rabisco era uma época em que se considerava que os frutos ainda presentes nas árvores já não seriam colhidos pelos seus proprietários e por isso qualquer pessoa o podia fazer.

E é isto o varejo: Uma marca das gentes marafadas que nos dias mais quentes de Verão açoitam as alfarrobeiras e fazem o negro fruto cair no chão.

 

Nota:

 

1. Na imagem podemos ver alguns dos utensílios do varejo como são a vara, os toldos ou panos, as sacas e a alcofa.

 

 

 

17
Jul11

Flora Louletana (III) - A amendoeira

Lígia Laginha

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Como se aproxima a altura de apanhar as amêndoas, fruto da amendoeira, hoje falemos um pouco desta espécie tão comum no nosso Algarve.

 

Assim, segundo a infopédia:

 

"Designação vulgar de plantas arbóreas da família das Rosáceas e do género Prunus, a amendoeira, Prunus dulcis (Sin. Prunus amygdalus), é uma árvore muito ramificada, com ramificação ascendente, que pode atingir os oito metros de altura. Apresenta um ritidoma de cor negro-purpúra, com gretas profundas. Os ramos, enquanto jovens, são verdes. 
As folhas são caducas, simples, alternas, com um comprimento variável entre os quatro e 12 centímetros, oblongo-lanceoladas, glabras, finamente denteadas. O pecíolo tem um tamanho superior a um centímetro. No início as folhas podem dobrar-se em V ou ao longo da nervura central. 
A floração, que ocorre normalmente entre fevereiro e abril, é anterior ao aparecimento da folhagem, originando uma paisagem muito típica e procurada pela sua beleza. As flores, rosadas antes de se abrirem e mais pálidas ou mesmo brancas na sua maturação, têm um diâmetro que varia entre os 40 e os 50 milímetros. São curtamente pecioladas. O hipanto é campanulado e a margens das sépalas tomentosas. 
O ovário e o fruto são, também, tomentosos. O fruto é ovoide, ligeiramente comprimido, com um comprimento variável entre os 35 e 60 milímetros. É de cor cinzento-esverdeada, com cobertura suculenta que encerra o caroço conhecido por amêndoa.
A amendoeira Prunus dulcis é também comummente designada por amendoeira-amarga (Prunus dulcis amara) ou amendoeira-doce (Prunus dulcis dulcis).
A amendoeira, originária da Ásia Menor e Nordeste de África, cultivou-se desde a Antiguidade em volta do mar Mediterrâneo, habitando em lugares rochosos, bordos de estradas, limites de campos cultivados e terrenos de cultivo. Em Portugal, a cultura desta espécie é particularmente favorecida nos vales do Alto Douro e no Algarve.
As amêndoas são utilizadas normalmente para fins culinários e terapêuticos. O óleo de amêndoa é também utilizado na cosmética. As sementes de amendoeira contêm, como outras sementes de plantas do género Prunus, uma substância que produz ácido cianídrico, em teor elevado nas amêndoas amargas, que pode causar graves perturbações. A ingestão de 10 - ou até menos - amêndoas cruas, naquelas condições, pode causar graves perturbações e a ingestão de vinte pode ser fatal."

 

Bem, quem diria que a amendoeira era isto tudo... A marafada apenas pode confirmar que as amendoeiras em flor, entre os meses de Fevereiro e Abril, são um espectáculo de rara beleza.

A amêndoa é usada na maior parte da doçaria algarvia. Considerada uma iguaria de dificil apanha é muitas vezes cara e não está ao acesso dos bolsos de todos. Mas o sabor dos doces de amêndoa é sem dúvida magnífico!