Joaquim da Barrada, poeta popular de Salir
Olá caros visitantes do “Marafações de uma Louletana”.
Como aqui já escrevi, Salir, terra de lendas de mouras encantadas, é também rica em poetas populares. Hoje é altura de lembrar Joaquim Guerreiro Inácio, vulgarmente conhecido com Joaquim da Barrada.
Joaquim da Barrada nasceu a 24 de Setembro de 1925. Praticamente não frequentou a escola, porque tinha de trabalhar para ajudar os pais. Ainda assim, talvez por ter irmãos um pouco mais letrados, aprendeu, embora de forma muito rudimentar, a ler e a escrever.
O seu primeiro trabalho consistia em guardar uma vara de porcos pertencentes aos seus pais e vizinhos. Por cada porco que Joaquim Inácio guardava recebia 5$00.
Aos 11 anos, Joaquim da Barrada decidiu abandonar o pastoreio e partiu para a monda no Alentejo. Aos 19 anos enveredou pela construção civil em Lisboa, onde se manteve até 1950.
Voltou depois à sua terra, aí casou e teve filhos. Para garantir o sustento da sua família dedicou-se a diversas actividades tais como: carregar azeitonas para o lagar, lenha para os telheiros e fornos de cal, venda de peixe na serra, etc. Contudo, com um espírito aventureiro começou a pensar em emigrar para a Argentina, no entanto, para tal precisava de possuir pelo menos a 3.ª classe. Por este motivo, já adulto, foi estudar e acabou por fazer o exame do 3.º grau. Infortunadamente, não conseguiu partir para a Argentina e voltou a dedicar-se à construção civil, desta feita no litoral algarvio que nessa época começava a despontar em termos turísticos. Em 1967, foi “a salto” para a França e aí conseguiu melhorar um pouco a vida. Porém, a sua estadia em terras francesas foi curta e em 1973 regressa e decide continuar a trabalhar como pedreiro no Algarve. Com 67 anos reformou-se e a partir daí dedicou-se ao artesanato, fazendo cestos de verga e cana (como se pode ver na fotografia que ilustra este artigo).
Desde muito novo sentiu vocação para a poesia, sendo a mesma uma forma de relatar as suas vivências.
Joaquim da Barrada faleceu a 29 de Novembro de 1997.
A propósito da sua ida para a França, Joaquim da Barrada brindou com o seguinte poema a sua terra natal:
MOTE
Adeus Salir minha terra
Minha linda freguesia
És a rainha da Serra
Da nossa província algarvia.
I
Quando eu fui para França
Há muito tempo passado
Ainda hoje estou recordado
Porque não me sai da lembrança.
Lembrem-se eu não vou para a guerra
Nem o pais me desterra,
Fiz a minha despedida
Adeus Salir minha terra.
II
Isto é a realidade
A minha sorte assim o quis
Despedi-me do meu pais
Mas foi com grande saudade.
Deixei os filhos com pouca idade
Foi quem mais me comovia
Pensando qual era o dia
Que eu devia cá vir;
Disse assim adeus Salir,
Minha linda freguesia.
III
Aqui nasci e fui criado
Gosto muito da minha aldeia
Digo sempre à boca cheia
Aqui ou em qualquer lado.
Se eu nisto estiver errado
Qualquer pessoa erra
Neste cantinho se encerra
Para mim toda a beleza
Como tens tanta riqueza
És a rainha da Serra.
IV
Da rocha se avista o mar
Cerro dos Negros e a bica
Muita gente cá vem cá fica
Para este panorama olhar.
Quando neste ouço falar
Dá-me bastante alegria
Aqui não há fantasia
Porque lhe tenho muito amor.
És de todas a maior
Da nossa província algarvia.
Nota:
1.Texto baseado num artigo da autoria de José Viegas Gregório publicado na “Gazeta de Salir”, nº 41, Março, 1996;
2. Poema retirado da obra “Poesia popular de Salir” da autoria de Manuel da Brazeira e de Joaquim da Barrada, com edição da Associação Cultural de Salir, 1991.