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Marafações de uma Louletana

Um espaço dedicado a Loulé e às suas gentes!

Marafações de uma Louletana

Um espaço dedicado a Loulé e às suas gentes!

Joaquim da Barrada, poeta popular de Salir

24.11.23, Lígia Laginha

Joaquim da Barrada.jpg

 

Olá caros visitantes do “Marafações de uma Louletana”.

Como aqui já escrevi, Salir, terra de lendas de mouras encantadas, é também rica em poetas populares. Hoje é altura de lembrar Joaquim Guerreiro Inácio, vulgarmente conhecido com Joaquim da Barrada.

Joaquim da Barrada nasceu a 24 de Setembro de 1925. Praticamente não frequentou a escola, porque tinha de trabalhar para ajudar os pais. Ainda assim, talvez por ter irmãos um pouco mais letrados, aprendeu, embora de forma muito rudimentar, a ler e a escrever.

O seu primeiro trabalho consistia em guardar uma vara de porcos pertencentes aos seus pais e vizinhos. Por cada porco que Joaquim Inácio guardava recebia 5$00.

Aos 11 anos, Joaquim da Barrada decidiu abandonar o pastoreio e partiu para a monda no Alentejo. Aos 19 anos enveredou pela construção civil em Lisboa, onde se manteve até 1950.

Voltou depois à sua terra, aí casou e teve filhos. Para garantir o sustento da sua família dedicou-se a diversas actividades tais como: carregar azeitonas para o lagar, lenha para os telheiros e fornos de cal, venda de peixe na serra, etc. Contudo, com um espírito aventureiro começou a pensar em emigrar para a Argentina, no entanto, para tal precisava de possuir pelo menos a 3.ª classe. Por este motivo, já adulto, foi estudar e acabou por fazer o exame do 3.º grau. Infortunadamente, não conseguiu partir para a Argentina e voltou a dedicar-se à construção civil, desta feita no litoral algarvio que nessa época começava a despontar em termos turísticos. Em 1967, foi “a salto” para a França e aí conseguiu melhorar um pouco a vida. Porém, a sua estadia em terras francesas foi curta e em 1973 regressa e decide continuar a trabalhar como pedreiro no Algarve. Com 67 anos reformou-se e a partir daí dedicou-se ao artesanato, fazendo cestos de verga e cana (como se pode ver na fotografia que ilustra este artigo).

Desde muito novo sentiu vocação para a poesia, sendo a mesma uma forma de relatar as suas vivências.

Joaquim da Barrada faleceu a 29 de Novembro de 1997.

A propósito da sua ida para a França, Joaquim da Barrada brindou com o seguinte poema a sua terra natal:

 

MOTE

 

Adeus Salir minha terra

Minha linda freguesia

És a rainha da Serra

Da nossa província algarvia.

 

I

 

Quando eu fui para França

Há muito tempo passado

Ainda hoje estou recordado

Porque não me sai da lembrança.

Lembrem-se eu não vou para a guerra

Nem o pais me desterra,

Fiz a minha despedida

Adeus Salir minha terra.

 

II

 

Isto é a realidade

A minha sorte assim o quis

Despedi-me do meu pais

Mas foi com grande saudade.

Deixei os filhos com pouca idade

Foi quem mais me comovia

Pensando qual era o dia

Que eu devia cá vir;

Disse assim adeus Salir,

Minha linda freguesia.

 

III

 

Aqui nasci e fui criado

Gosto muito da minha aldeia

Digo sempre à boca cheia

Aqui ou em qualquer lado.

Se eu nisto estiver errado

Qualquer pessoa erra

Neste cantinho se encerra

Para mim toda a beleza

Como tens tanta riqueza

És a rainha da Serra.

 

IV

 

Da rocha se avista o mar

Cerro dos Negros e a bica

Muita gente cá vem cá fica

Para este panorama olhar.

Quando neste ouço falar

Dá-me bastante alegria

Aqui não há fantasia

Porque lhe tenho muito amor.

És de todas a maior

Da nossa província algarvia.

 

Nota:

1.Texto baseado num artigo da autoria de José Viegas Gregório publicado na “Gazeta de Salir”, nº 41, Março, 1996;

2. Poema retirado da obra “Poesia popular de Salir” da autoria de Manuel da Brazeira e de Joaquim da Barrada, com edição da Associação Cultural de Salir, 1991.