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Marafações de uma Louletana

Um espaço dedicado a Loulé e às suas gentes!

Marafações de uma Louletana

Um espaço dedicado a Loulé e às suas gentes!

Da Torre - Brinquedos e bijuteria em madeira

02.05.20, Lígia Laginha


Tudo começou em 1989, quando sete donas de casa da freguesia de Alte (que nunca tinham tido contacto com carpintaria) decidiram frequentar um curso de formação profissional, integrado no “ Programa de Conservação do Património Cultural”, promovido pela Associação In Loco e pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional. Com os três anos de formação (2 de teoria e 1 de prática) ficaram aptas a trabalhar com a madeira. O primeiro trabalho foi fazer as mesas, bancadas e bancos onde, ainda hoje, trabalham. Mas da turma inicial permanecem em atividade apenas três artesãs: Silvina Martins, Ana Elói e Alierte Graça.
A oficina funciona nas instalações de uma antiga Escola Primária, localizada no sítio da Torre (freguesia de Alte), cedidas pela Câmara Municipal de Loulé, onde são produzidos artigos em madeira, de pequenas dimensões, tais como: brinquedos, bijuteria, entre outras coisas.




Os brinquedos de madeira - faia, pinho ou mogno – vão, a pouco e pouco, ganhando vida, com vários acabamentos, ou ao natural ou pintados. Estes brinquedos, que nos recordam a infância, são dos mais variados: carros, jipes, motos, aviões, comboios, camiões, tratores, barcos, carrocéis, animais (com rodas e fios para puxar), jogos, quebra-cabeças, mobiles, mobílias para bonecas, quintas algarvias, entre outros.
Um brinquedo pode demorar vários dias até ficar pronto. Apesar de ainda usarem alguns moldes de brinquedos concebidos durante o curso, as três artesãs continuam a dar asas à
imaginação e a criar e/ou a modificar as suas peças. Por vezes criam peças exclusivas, segundo as solicitações de quem quer um brinquedo único. Recebem muitas e variadas encomendas e aceitam-nas como um desafio. Fazem “ de tudo um pouco”, entendendo isso como uma melhoria no seu trabalho. Em tempos, participaram no projeto TASA - Técnicas Ancestrais, Soluções Atuais, que conjugava a arte dos artesãos algarvios com a criatividade de designers.




Para além dos brinquedos, dedicam-se, igualmente, à bijuteria, que é feita com materiais da natureza: madeiras de alfarrobeira, amendoeira, oliveira, figueira, medronheiro, esteva, sobreiro, tojo, frutos secos, sementes, caroços. E assim nascem peças originais e diferentes: travessões, brincos, colares, anéis, pregadeiras, cintos, entre outras.

Na oficina acolhem grupos das mais variadas faixas etárias e nacionalidades. Recebem com muita frequência visitas de escolas, de grupos trazidos por diversas Associações, dos safaris, de grupos de turistas, e muitos forasteiros, alguns caminhantes da Via Algarviana. Os seus produtos podem ser adquiridos na oficina ou encontrados em exposições, lojas de artesanato e feiras um pouco por todo o Algarve e, mesmo pelo país, bem como além-fronteiras (10ª Mostra de Artesanato, em Tenerife - 2000), nas quais participam desde 1989.
Já alcançaram vários prémios e menções honrosas, a nível nacional, com alguns dos seus brinquedos, tais como: Menção Honrosa no Concurso de Artesanato Criativo com o brinquedo – tartaruga (FIA 1990); Menção Honrosa no Concurso de Artesanato Criativo com o brinquedo – cão de baloiço (FIA 1991); Prémio Nacional de Artesanato, com a obra “carrocel” (IEFP 1997).

Os seus rostos já são bem conhecidos do público, pois têm participado em diversos programas de televisão, quer seja na oficina ou nas feiras.
A experiência destas três artesãs e os seus testemunhos têm sido relatados na imprensa em diversos jornais e revistas a nível local, regional, nacional e internacional. Já foram por várias vezes capa de cartaz, na Feira Internacional de Artesanato - FIA, na Feira da Serra de Loulé, em conferências, entre outras.

No sítio da Torre, outrora muito povoado, não existem crianças, restando cerca de 20 habitantes, na sua maioria idosos ou estrangeiros. Já não se ouvem as crianças, mas esta oficina dá vida ao sítio e é o ponto de encontro dos seus poucos habitantes.
Louvamos o trabalho destas três artesãs que, apesar das dificuldades, há mais de 25 anos que estão juntas e dão a conhecer o seu trabalho um pouco por todo o lado.

Nota:

1. Texto da autoria de Sónia Silva publicado na revista Raízes n.º 3. Leia a revista na integra aqui