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Marafações de uma Louletana

Um espaço dedicado a Loulé e às suas gentes!

Marafações de uma Louletana

Um espaço dedicado a Loulé e às suas gentes!

D. Sanita, a ajuntadeira do arco

30.10.17, Lígia Laginha

 

 

Na Rua dos Almadas, que outrora se designava Rua do Arco do Chafariz, encontramos um pequeno espaço típico e familiar onde D. Maria Encarnação do Nascimento, conhecida por D. Sanita, trabalha como ajuntadeira.

Mal saiu da escola foi logo aprender o ofício, porque a dureza da vida e as circunstâncias dos tempos assim o exigiam. Mas D. Sanita confessa-nos, com a sua simpatia irradiante: “O meu sonho era ir para a uma creche tratar de crianças, mas a vida não era fácil e eu precisava de ganhar, os tempos eram muito pobres”. Hoje, reformada, com uma modesta pensão, continua agarrada à arte de coser e ajuntar, soltando um desabafo: “Hei-de morrer a trabalhar!”.

Nascida e criada em Loulé, mais precisamente na Rua do Poço (freguesia de S. Clemente), trabalhou em lojas desde menina e moça, mas há mais de trinta anos que está instalada neste “cantinho”, próximo da Rua das Lojas, onde alia ao trabalho o gosto pelo convívio, pois muitas clientes habituais param na porta nº 10, não apenas para encomendarem algum serviço, mas também para dois simpáticos dedos de conversa.

 


 

Continuando a conversa, D. Sanita lá nos vai dizendo que D. Albertina foi uma das primeiras pessoas que lhe ensinou a profissão, tinha muita paciência para ensinar, e que também trabalhou com o senhor António (o sapateiro da Matriz entrevistado para o 1º número da Raízes) numa loja, durante dezoito anos. “Éramos quatro mulheres a trabalhar”, adianta-nos. Tudo gente boa, trabalhadora, sempre pronta a ajudar…

Antigamente havia muitos sapateiros e lojas tradicionais e as pessoas deslocavam-se à “vila” para fazer compras e arranjar calçado ou peças de vestuário. Ainda hoje tem algumas clientes fixas que lhe pedem para fazer bainhas ou colocar fechos, fazer uns pequenos arranjos. Há roupa com um significado especial, com um valor sentimental e afectivo para quem a possui. Calçado já não arranja, apenas vestuário, pois a máquina que ali está parada não funciona por falta de uma peça.

Sobre Loulé e os louletanos considera que os tempos mudaram hábitos e costumes e que antigamente talvez existissem mais laços de afectividade. “Era outra época. As pessoas ajudavam-se mais, eram mais amigas umas das outras”.

É um prazer conversar com D. Sanita, pela sua afabilidade, pela sua doçura, ela que é uma figura muito querida e estimada na cidade. E aquele espaço tão aconchegado, que chama a atenção de qualquer visitante que ali passa, é um espaço onde o afecto e o gosto pelo ofício se misturam com uma visível devoção a Nossa Senhora da Piedade, a Mãe Soberana, padroeira dos louletanos, patenteada nas diversas imagens que decoram as paredes da sua simpática “oficina” e que sobressaem entre as máquinas, as tesouras, as linhas e outros utensílios e peças que também têm a sua história. 

Na Rua dos Almadas a vida tem um ar tradicional…

 

 

Nota: Artigo da autoria do saudoso amigo e colega Luís Monteiro Pereira publicado na Revista Raízes n.º 2. Ler a revista na integra online aqui