O nosso património - Monumento Duarte Pacheco foi inaugurado há 70 anos
Ainda visando os mesmos objetivos, foi lançada uma circular intitulada “Indicações para o cortejo e inauguração” que estabelece as diretrizes a serem seguidas pelos diversos participantes, tais como a Mocidade e a Legião Portuguesa, as Câmaras Municipais, as Juntas de Freguesia, Sindicatos, Casas do Povo, Grémios e Associações de Recreio e Desporto.
Passados 15 dias do grande acontecimento, não só local, como nacional, o jornal “A Voz de Loulé” de 1 de dezembro de 1953 brinda-nos com uma reportagem alargada em que salienta os momentos mais importantes que marcaram esta ocasião, começando por considerar que na mesma participou uma multidão “[…] de mais de 20.000 pessoas, postara-se nos passeios ao longo das Avenidas José da Costa Mealha e General Carmona, […]”. Segundo o mesmo jornal e, por se assinalarem 10 anos sobre a morte do homenageado, pela manhã decorreu uma missa na Igreja Matriz de Loulé, após a qual “[…] o sr. Governador Civil de Faro, deputados, representantes dos municípios, antigos colaboradores de Duarte Pacheco e outras altas individualidades, todas as pessoas presentes e às quais se associou muito povo, dirigiram-se até junto do prédio da Praça da Republica onde nascera o estadista e aí, pelo irmão mais novo, o Dr. Nuno Humberto Pacheco, foi descerrada uma lápide comemorativa […]”. O jornal salienta ainda o descerramento do medalhão com a efigie do homenageado e o discurso do Presidente do Concelho, Oliveira Salazar, como momentos marcantes da cerimónia. De resto, no final da mesma publicação, em nota, lê-se “Dada a projecção nacional da manifestação de que Loulé foi teatro no dia 16 de Novembro, deliberou o nosso jornal editar, em brochura, uma reportagem gráfica em que, numa síntese eloquente, se grave, para quem não esteve em Loulé ou para quem deseje ficar com uma recordação do facto, imagens e palavras do grandioso e histórico acontecimento”. E assim foi! Passado algum tempo, deu à estampa uma brochura intitulada “Duarte Pacheco: a sua consagração em Loulé no dia 16 de Novembro de 1953”, uma edição d’ “A Voz de Loulé”, impressa na Gráfica Louletana.
Cottinelli Telmo foi o primeiro a esboçar uma proposta para o monumento a erigir, no entanto, com a sua morte, em 1948, Cristino Silva ficou encarregue de apresentar um novo projeto.
Entre 1949 e 1952, o projeto estagnou, contudo, neste último ano avançaria definitivamente.
O trabalho resultou da articulação entre várias entidades: a Câmara Municipal de Loulé e a Direcção dos Serviços de Melhoramentos Urbanos, adstrita à Direcção Geral dos Serviços Urbanos. Ao topo deste projeto articulado estava o Ministério das Obras Públicas. O trabalho realizou-se num prazo de 17 meses e a obra estaria concluída pouco antes da data do 10º aniversário do falecimento de Duarte Pacheco.
Cristino da Silva concebeu um monumento esquemático: uma coluna sólida, com 5 metros de diâmetro e 17 metros de altura como símbolo da gigantesca obra realizada pelo eminente Ministro. O aspeto inacabado e fraturado da coluna seria uma alegoria plástica à vida e obra interrompidas tão abruptamente. Na base da coluna voltada ao eixo da praça, foi colocado um plinto com um baixo-relevo em bronze com a efígie do ministro. Esta foi ladeada por duas palmas de glória esculpidas na pedra. Assente sobre plataforma circular de 30 metros de diâmetro e emoldurada por muro de suporte semicircular com 4 metros de altura e dupla escadaria lateral, a coluna monumental foi ornada com baixos-relevos representativos das infraestruturas com que Duarte Pacheco dotara o país. No muro encontra-se gravada a frase de Salazar (a palavra Salazar foi eliminada em 1976) “Uma vida velozmente vivida e inteiramente consagrada”.
Notas bibliográficas:
ALMEIDA, Sandra Cristina de Jesus Vaz Costa Marques de, O País a régua e esquadro: urbanismo, arquitectura e memória na Obra Pública de Duarte Pacheco. [s.l.], [s.n.], 2009, p. 45-48.
PALMA, Jorge Filipe, A consagração nacional de Duarte Pacheco: A construção do Monumento de Loulé.
TINOCO, Teresa, Preservação e valorização do Património Cultural dos Espaços Públicos: A estatuária contemporânea do Concelho de Loulé. Loulé, [s.n.], 2005.
CARRUSCA, Susana, Loulé: O património artístico. Loulé, Câmara Municipal, 2001, p. 149-150.
CABRITA, Aurélio