Louletano Desportos Clube e Juventude Sport Campinense: dois obreiros da tradição do desporto em Loulé
02.05.20, Lígia Laginha
Em Portugal, durante as primeiras décadas do século XX, foi atribuído um carácter patriótico e socializante à prática desportiva. A I República utilizou a propaganda para promover o desporto e por todo o país o espírito desportivo, ligado ao associativismo, foi-se manifestando.
Loulé não foi exceção e logo em 1923 é fundado, por iniciativa de um grupo de homens influentes, entre os quais Frutuoso da Silva, João Féria, António Sancho, Guanito Pablos, Pablito, Reis, João de Sousa Inês, Raul Pinto e Octávio Pinto, o Louletano Desportos Clube. Embora por esta altura já existisse o Sporting Clube Louletano, o LDC marca a diferença, quer pela forma como contribui para a implementação da prática desportiva em Loulé, quer pela sua durabilidade no tempo, quer ainda pela diversidade de modalidades que desde logo englobou. Visando na origem fomentar a prática dos desportos de salão, nomeadamente a ginástica, a esgrima e o boxe, o LDC procura (e procurou) antes de mais o engrandecimento do desporto e dos atletas. Neste contexto, insere-se o apelo lançado em 22 de Janeiro de 1925 no jornal O Primeiro de Maio: "A direcção deste club convida os seus associados a esperarem na Ladeira do Rato, no próximo dia 23, às 8 e meia da manhã, os pugilistas lisbonenses, num gesto desportivo e hospitaleiro, que firmará a leal e sincera camaradagem que reina nos peitos moços do Deporto Louletano".
Este espírito desportivo foi de tal forma absorvido pelos louletanos, que os atletas começaram a ser vistos como autênticos heróis.
Das muitas modalidades que dinamizou, foi com o Ciclismo que o LDC alcançou maior glória e foram ciclistas como Cabrita Mealha, Joaquim Apolo, Vitor Tenazinha, Valério Clara "Chocolateira", entre outros, que levaram as gentes de Loulé ao delírio e desenvolveram no seu seio o gosto pelo desporto. Para tal, muito contribuíram também as inúmeras festas desportivas organizadas pelo LDC durante a década de 30 e seguintes.
Alguns destes corredores foram treinados por Manuel Bexiga Peres, um dos louletanos que mais contribuiu para a introdução do ciclismo de competição em Loulé. Sob a sua direção (1946- 1950; 1952-1953; 1955-1957), o LDC conheceu projeção a nível nacional nesta modalidade, cuja época áurea se situa na década de sessenta, nomeadamente com a conquista da camisola amarela em 1963. A par do ciclismo, o LDC apostou no futebol que a partir dos anos setenta, em parte devido ao esmorecimento do ciclismo, ganhou maior importância dentro do clube e culminou com a conquista do título no campeonato nacional da 3ª divisão, em 1986/87.
Atualmente o LDC conta com cerca de 4000 sócios e 1800 atletas divididos pelas modalidades de futebol, futsal, ciclismo, natação, triatlo, ginástica, karaté e musculação.
O mesmo pensamento e dedicação animaram um grupo de jovens da Campina de Cima que gostava de jogar futebol e se uniu para, em 1947, criar a Juventude Sport Campinense. Entre os seus fundadores estão Carlos Carapeto, Felismino Nunes, Joaquim Alcaria, Jorge Pinguinha, Joaquim Manuel Gregório, José Francisco e José Silva Teixeira.
Entre a data da sua fundação e 1976, altura em que adquire um carácter federado, o percurso do Campinense é marcado por alguma instabilidade, resumindo-se a sua atividade a encontros amigáveis e na participação em torneios populares.
Em 1976 o clube reaparece em força, realiza a sua primeira Assembleia Geral e, tal como o LDC, prima pela prática e desenvolvimento das atividades desportivas. Também é no futebol (campeões nacionais série F da 3.ª Divisão na época de 1982/83) e no ciclismo que residem os momentos mais importantes do Campinense e é talvez nesta última modalidade que as histórias dos dois clubes se complementam. Numa altura em que o ciclismo do LDC estava mais adormecido, Luís Vargues, corredor do Campinense, brilha em 1979 e n' A Voz de Loulé escreve-se: " Está de parabéns o público do ciclismo, que está voltando a readquirir o interesse perdido, que se mostra de novo entusiasmado por esta espectacular modalidade, que tantos adeptos continua a contar em Loulé e no Algarve em geral". (in A Voz de Loulé , n.º 720, 29/3/1979)
Na atualidade, o clube dispõe de 350 sócios, 330 atletas e das seguintes modalidades: futebol, boxe, kick Boxing, Judo, Jiu-Jitsu, Paintball e Ténis de Mesa.
Embora sempre tenha existido uma certa rivalidade entre estes clubes, o que até é salutar em ambiente desportivo, a história dos mesmos demonstra acima de tudo dedicação, despojamento e gosto pelo desporto. Em resumo, como tão bem disse João António dos Santos, presidente do Campinense, em 1977: "Nós todos trabalhamos a bem do desporto da nossa terra […]" (in A Voz de Loulé , n.º 646, 27/10/1977).
Nota:
Texto de autoria de Lígia Laginha (moi meme 😁) publicado na revista Raízes n.º 3 que podem ler na integra aqui