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Marafações de uma Louletana

Um espaço dedicado a Loulé e às suas gentes!

Marafações de uma Louletana

Um espaço dedicado a Loulé e às suas gentes!

Ilustres louletanos - João dos Santos Simões, o "Guanito"

01.05.20, Lígia Laginha


João dos Santos Simões, popularmente conhecido por “Guanito”, nasceu em 1940 e cedo abandonou os estudos (concluiu a quarta classe). Aos 12 anos começou a trabalhar na Tipografia Comercial, onde iniciou a aprendizagem sobre as artes gráficas. 
Teve uma participação ativa na dinamização de vários grupos desportivos. Foi praticante de futebol, fazendo parte dos quadros da equipa sénior do Louletano, situação interrompida pelo serviço militar, integrando uma missão em Angola, entre 1961 e 1963. De regresso a Portugal, retoma a sua profissão de tipógrafo mas, mais tarde, emigra para França onde permanece até 1966. Nesse mesmo ano volta à Tipografia Comercial e retoma a atividade desportiva. Algum tempo depois integra a direção do Louletano Desportos Clube e, ao mesmo tempo, faz parte da equipa de futebol como jogador e treinador. Criou uma escola de jogadores de onde saíram juniores e juvenis que irão fazer parte da atividade do clube e do movimento desportivo do Concelho de Loulé. 

Nunca abandonou a sua vida profissional e, em 1971, torna-se sócio da Tipografia Comercial. 

Em 1969 é convidado pelo movimento de oposição ao regime, mantendo um contacto com o Atlético onde o movimento se concentra. Com a Revolução do 25 de Abril de 1974, a CDE convida-o para a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Loulé. Nas primeiras eleições é eleito na coligação FEPU para um mandato e voltaria, mais tarde, a fazer mais dois mandatos como vereador pela APU. Nos quatro mandatos tem a responsabilidade de vários pelouros sem qualquer vencimento. Após a sua passagem pelas funções autárquicas, fomenta o movimento para a criação da Zona Industrial de Loulé que veio dar início aos polos de desenvolvimento comercial e industrial da cidade de Loulé. Em 1984 é feita uma sociedade com mais quatro sócios, sendo esta gerência que lidera e desenvolve a empresa Gráfica Comercial até à atualidade. 

Fez parte dos quadros do MDPCDE regional e da comissão nacional. 

Integrou o grupo da ASPROCA que mais tarde se transformaria na Casa da Cultura. 

Hoje ainda é vice-presidente do Louletano e membro da direção nacional da APIGRAF. 

Politicamente mantém-se independente de qualquer filiação partidária.

Em 2017 foi agraciado com a Medalha Municipal de Mérito - Grau Prata.

Nota: 

1. Informação retirada do Livro dos Agraciados pelo Município de Loulé em 2017. 

2. Para saber mais sobre João dos Santos Simões recomendo a leitura de um artigo da autoria de João Serrão publicado na revista Raízes n.º 6 que se encontra na integra aqui.

O que os algarvios comem - Caracóis à algarvia

01.05.20, Lígia Laginha


O mês que hoje se inicia é, por excelência, tempo de degustar um dos melhores petiscos da nossa gastronomia: caracóis. Vistos por algumas culturas como algo repugnante enquanto alimento, os caracóis são muito apreciados pelo povo português, sobretudo quando acompanhados de uma cervejinha fresca e de pão com manteiga. No Algarve nós confeccionamos-los utilizando casca de laranja e de limão, oregãos ou poejo, entre outros ingredientes mais ou menos secretos. 
Na foto podemos ver também os bicos de piteira secos que nós costumamos utilizar para comer os caracóis, isto é, para retirar os referidos bicharocos da sua "casinha". 

Deixo-vos então uma receita de caracóis à algarvia:

Ingredientes:
Para 6 pessoas

2 kg (litros) de caracóis ;
sal ;
paus de oregãos

Confecção:

Oito dias antes de se cozinharem põem-se os caracóis dentro de um recipiente com furos e tapados com uma rede (ou com uma peneira), para que os caracóis eliminem as toxinas que possam ter e não amarguem. Convêm por um troncos de árvore dentro do recipiente para eles "grudarem" nos mesmos.
Passado o referido tempo lavam-se os caracóis em várias águas com sal, esfregando-os. Os caracóis estão prontos quando na água não houver sinais de visco.
Introduzem-se os caracóis numa panela com água fria abundante e levam-se ao lume, inicialmente fraco e aumentando progressivamente o calor para que os caracóis deitem a cabeça de fora. À água junta-se sal grosso, e quando os caracóis estiverem praticamente cozidos adicionam-se os paus de oregãos. As folhas dos oregãos não devem fazer parte deste tempero porque transmitem aos caracóis um sabor amargo que não é apreciado no Algarve.
Os caracóis cozem durante meia hora ou, no máximo, 40 minutos.
Comem-se bem quentes, tirando-os das conchas com um bico de pita ou um palito.
Há ainda quem junte um pouco de pimenta ou de malagueta.

O Manel da Baracinha

01.05.20, Lígia Laginha


Bom dia queridos visitantes do "Marafações de uma Louletana".

Hoje a marafada traz-vos mais uma figura típica de Loulé a par da carismática Maria das Bananas que já aqui foi falada.

Essa figura é o Manuel Tereza, vulgo Manel da Baracinha, que durante as décadas de 70 e 80 calcorreava a cidade louletana sempre com um molho de palma debaixo do braço e fazendo a baracinha (arte de entrelaçar a palma).

Mas não só pela "baracinha" era o Manel conhecido, ele era também um exímio tocador de sinos tendo a seu cargo o Campanário da Igreja de São Francisco. O Manel estava encarregado de tocar nos baptizados, casamentos, funerais, missas e outras cerimónias que ao longo do ano decorriam na igreja. Para todas estas ocasiões o toque dos sinos era diferente.

E pronto, nada mais posso dizer sobre o Manel pois há sempre um certo mistério que envolve estas figuras cujas datas extremas se desconhecem, assim como o local onde jazem os seus restos mortais.

A arte de bem falar algarvio

01.05.20, Lígia Laginha


Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

Hoje este blog marafado traz-vos mais umas quantas palavrinhas que nós algarvios dizemos e que são próprias do nosso linguajar. Já sabem e por isso não se preocupem que cada "algarviada" é sempre acompanhada do sinónimo no português que todos conhecem.


Divirtam-se!


Algarviada: Gambôas

Sinónimo: Marmelos grandes



Algarviada: Chibo

Sinónimo: Cabrito



Algarviada: Como um piôrro

Sinónimo: Muito salgado



Algarviada: Folga

Sinónimo: Dormir a sesta



Algarviada: Paz de Alma

Sinónimo: Pessoa sossegada



Nota:

1. Relembro mais uma vez que todas estas palavrinhas tão engraçadas podem ser encontradas nos dois volumes das "Algarviadas" de António Vieira Nunes.

O que os algarvios comem - Ervilhas com ovos

01.05.20, Lígia Laginha


Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

Como ainda estamos na Primavera é tempo de comer ervilhas, ou melhor, griséus como nós algarvios marafados chamamos às ervilhas.

Embora existam muitas formas de cozinhar os griséus, a marafada elegeu a receita de griséus com ovos escalfados. Um prato que também se confessiona (e muito bem) no Alentejo mas em que cada um introduz as suas particularidades.

Então aqui fica a receita de griséus com ovos tipicamente algarvia:


Ingredientes:
Para 4 pessoas

3 kg de ervilhas novas;
1 ramo de salsa ou coentros ;
150 grs de cebolas ;
1 dl de azeite ;
100 grs de banha ;
100 grs de chouriço de carne ;
Um naco de toucinho ;
4 ovos ;
sal q.b. 


Confecção:

Descasque e lave as ervilhas. Descasque, também, a cebola e corte bastante fina. O chouriço é cortado ás rodelas, depois de lhe ter tirado a pele, e o toucinho deve ser fatiado ou cortado aos bocadinhos.
Leve um tacho ao lume com azeite e banha. Deite dentro a cebola, o chouriço, o toucinho e o ramo de salsa. Deixe a cebola alourar.
Adicione as ervilhas e ponha a refogar, durante alguns minutos. Cubra com água. Tempere com sal e deixe cozer, tendo o cuidado de tapar o tacho.
Por fim, parta os ovos e coloque um de cada vez abrindo uns buraquinhos entre as ervilhas, deixando-os escalfar.

Nota:

1. Caso não tenham griséus de colheita podem usar congelados ou de lata que fica bom na mesma. 

2. As da foto fui eu que fiz. Estavam uma delicia!

A Maria das Bananas

01.05.20, Lígia Laginha



Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

Como sabem todas as terras que se prezem têm as suas figuras "típicas", ou melhor, atípicas e que sobressaem exactamente pela sua singularidade. Certo é que estas perduram na memória de quem as conheceu e em muitos casos tidas como “loucas” são as mais castiças da época e do local de que fizeram parte.

Uma dessas figuras foi a chamada Maria das Bananas.

Mulher destemida que calcorreava a então vila de Loulé nas décadas de 70 e 80. Apelidada de Maria das Bananas por ter tido uma banca de fruta no Mercado Municipal de Loulé, vulgo Praça, era dona de um buço expressivo e metia medo aos mais audazes.

Muitos acreditavam que a Maria das Bananas era possuída por espíritos na medida em que sempre vociferando pelas ruas louletanas umas vezes o fazia com uma voz aguda, outras com uma voz grave quase masculina.

A Maria das Bananas destacava-se também pela forma garrida com que se vestia, sendo que o vermelho predominava nas suas indumentárias exuberantes. Quase sempre com o cigarro na boca ou na mão não passava despercebida a quem quer que fosse.

Não sei ao certo quando faleceu a Maria das Bananas mas já foi há alguns anos. Ainda esteve algum tempo num lar antes de partir. Morou numa rua perto das Bicas Velhas e pouco mais posso dizer.

Fica uma fotografia que por acaso encontrei na net para testemunhar as poucas palavras que escrevi sobre esta mulher que ficará para sempre guardada algures na memória dos louletanos.

A arte de bem falar algarvio

01.05.20, Lígia Laginha


Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

Como qualquer região também o Algarve tem o seu falar próprio. Loulé, parte integrante e importante desse Algarve, não é excepção. Assim, o "Marafações de uma Louletana" irá dar a conhecer a alguns e recordar a outros algumas das "algarviadas" mais usadas e seus sinónimos no linguajar que todos conhecem.


Divirtam-se!


Algarviada: Gaseada

Sinónimo: Pessoa destravada, maluca


Algarviada: Balaio

Sinónimo: Alcofa pequena


Algarviada: Calhandro

Sinónimo: Que tem as pernas tortas


Algarviada: Ensampado

Sinónimo: Ficar Espantado


Algarviada: Espinhela

Sinónimo: Coluna Vertebral



Notas:

1. Estas belas "Algarviadas" foram tiradas da obra com o mesmo nome de António Vieira Nunes, editada em 2 volumes. A marafada louletana recomenda vivamente a leitura destes livrinhos.

2. Infelizmente, a arte de bem falar algarvio vai-se perdendo e sendo substituída pelos "bués" e pelos "fixes". O "Marafações de uma Louletana" deseja que este processo seja reversível e que a maioria dos verdadeiros algarvios continue a usar tais palavras que são espelho da sua cultura e do seu património etnográfico.

As nossas ruas - A Rua da Barbacã

01.05.20, Lígia Laginha
 
 
Bom dia caros visitantes do “Marafações de uma Louletana”. 

A identidade e a História de uma cidade está directamente relacionada com os seus topónimos. Assim, conhecer a toponímia de um local é também ter acesso à sua cultura, aos acontecimentos e personalidades que se distinguiram nesse mesmo local. Desta forma, uma das rúbricas que fará parte do blog "Marafações de uma Louletana" será "As nossas ruas"
 
Começamos por um dos topónimos mais antigos da cidade: a Rua da Barbacã.
 
Barbacã ou barbacãs eram estruturas defensivas comuns nas fortificações medievais e que perderam relativa importância com o aparecimento da artilharia. Daí que este topónimo, segundo a obra “O castelo de Loulé” da Dr.ª Isilda Martins, esteja relacionado “com um fosso existente entre a muralha do Castelo e outra mais baixa e de menor espessura que desapareceu”.
 
A Rua da Barbacã, topónimo nunca oficializado pela Câmara Municipal, tem inicio no Largo Dr. Bernardo Lopes e termina na Praça Afonso III. Constitui assim um “caminho” importante para ter acesso ao centro da Cidade e todos os dias é calcorreada por dezenas de pessoas incluindo aqui pela marafada.
 
 
Nota:
 
1. Informação retirada do “Dicionário Toponímico: cidade de Loulé” da autoria de Jorge Filipe Maria da Palma. A louletana marafada recomenda vivamente este livrinho sobre as ruas da cidade de Loulé.

O que os algarvios comem - A tiborna

01.05.20, Lígia Laginha




Bom dia caros visitantes do “Marafações de uma Louletana”.

Loulé é o maior concelho dessa região maravilhosa que é o Algarve. Dividido entre o Litoral, a Serra e o Barrocal, é um concelho cuja gastronomia é rica e variada. Enquanto no Interior, Serra e Barrocal, predominam os pratos confeccionados com feijão, grão, favas, ervilhas e os doces à base de figo, amêndoa, alfarroba… no litoral podemos apreciar as cataplanas e os arrozes de mariscos vários.

Hoje trouxe-lhes aquilo a que talvez não se possa chamar um prato na verdadeira acepção da palavra mas antes uma espécie de acepipe ou pequena degustação. A tiborna é o que nós algarvios chamamos a pão, torrado ou cru, molhado no azeite. O azeite é parte integrante da nossa dieta alimentar quase desde sempre já que a oliveira adapta-se muito bem às nossas condições climatéricas e aos nossos solos mediterrâneos. Há zonas em que ao azeite num prato alguns juntam alho e sal mas a tiborna que a marafada está habituada consiste pura e simplesmente em deitar algum azeite num prato e molhar lá o pãozinho quente. Lembra-me bem dos tempos em que a minha avó cozia o pão no forno a lenha e mal o tirava de lá fazíamos umas tibornas. Hoje a tiborna é sobretudo feita para experimentar o azeite novo, ou seja, aquele acabado de vir do lagar.

E pronto espero que experimentem fazer isto em casa pois não é perigoso :) e vão ver que descobrem novos sabores na simplicidade de um bocado de pão molhado em azeite.

A Lenda da Castelã de Salir

01.05.20, Lígia Laginha


Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

Já aqui falamos de Salir, do seu Castelo e de como esta terra louletana está impregnada de vestígios do tempo em que os mouros estiveram por aquelas bandas. Essa ocupação árabe torna Salir numa terra de mouras encantadas e por isso vos trago hoje uma lenda que é bem conhecida por todo o Concelho de Loulé: A Lenda da Castelã de Salir.

A vila de Salir, no Algarve, deve o seu nome à filha do alcaide de Castalar, Aben-Fabilla, que fugiu quando viu o seu castelo ameaçado pelo exército de D. Afonso III. Antes de fugir, o alcaide enterrou todo o seu ouro, pensando vir mais tarde resgatá-lo.

Quando os cristãos tomaram o castelo encontraram-no vazio, à excepção da linda filha do alcaide que rezava com fervor que tinha preferido ficar no castelo e morrer a “salir”. De um monte vizinho, Aben-Fabilla avistou a filha cativa dos cristãos e com a mão direita traçou no espaço o signo de Saimão, enquanto proferia umas palavras misteriosas. Nesse momento, o cavaleiro D. Gonçalo Peres que falava com a moura viu-a transformar-se numa estátua de pedra. A notícia da moura encantada espalhou-se pelo castelo e um dia a estátua desapareceu.

Em memória deste estranho fenómeno ficou aquela terra conhecida por Salir, em homenagem pela coragem de uma jovem moura. Ainda hoje no Algarve se diz que em certas noites a moura encantada aparece no castelo de Salir.


Nota:

1. Retirado do site Lendas de Portugal.