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Marafações de uma Louletana

Blog sobre Loulé e as suas gentes

Blog sobre Loulé e as suas gentes

Marafações de uma Louletana

31
Ago11

Ainda os figos

Lígia Laginha

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Hoje voltamos a falar de figos. No Algarve não há Verão sem eles e os figos são um dos componentes mais emblemáticos da nossa gastronomia.

 

O figo algarvio sempre teve grande nome, principalmente seco.

 

Os figos poderão dividir-se em dois grandes grupos, os brancos e os pretos ou “pintos”. 

 

Comem-se frescos ou secos e com eles fabrica-se também aguardente.

O primeiro figo a aparecer é o lampo sendo a primeira camada pelo São João e só se come fresco. Em meados de Agosto amadurecem os que se conservam pela secagem.

Reconhece-se o momento em que se devem colher pela inclinação que toma o fruto pois que o figo que até então se mantinha numa posição sensivelmente horizontal, inclina-se quando está maduro.

A figueira é uma árvore que pouco sofre com as variações atmosféricas, mas o seu fruto pode ser destruído pelas chuvas. Por outro lado, requer algum cuidado, sendo indispensável a cava para a sua manutenção. Reproduz-se por estaca e enxertia de borbulha.

A apanha do figo efectua-se de meados de Agosto a meados de Setembro, o que corresponde à da amêndoa e da alfarroba. Varejam-se igualmente com canas e põem-se ao sol a secar em esteiras também de cana.

 

Os figos secos acamam-se numa canastra e entre as várias camadas põe-se funcho e ervas doces. Sobre a última assenta pesada pedra para que os figos fiquem bem acamados e não se estraguem.

 

Outros são torrados sem ou com recheio de amêndoa.

 

E pronto... Eis um pouco mais sobre essa delícia que são os figos.

30
Ago11

Lendas louletanas (I) - A Lenda da Moura Cassima

Lígia Laginha

 

Boa tarde caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

A etnografia é uma das partes mais importantes da cultura de um povo. Dessa etnografia fazem parte lendas e mitos que durante gerações se foram perpetuando. Hoje este blog marafado inaugura uma nova rúbrica que tem por objectivo dar a conhecer um pouco mais da etnografia das gentes louletanas. Loulé é uma terra de mouras encantadas e de entre estas a mais famosa é Cassima:

 

Esta lenda passa-se em 1149, na véspera da reconquista de Loulé aos Mouros pelo Mestre D. Paio Peres Correia
Loulé estava sob domínio dos mouros e seu governador tinha três belas filhas Zara, Lídia e Cassima que era a mais nova.

Quando D. Peres se encontrava no exterior da muralhas da cidade pronto para conquistar a cidade, o governador levou as suas filhas até uma fonte onde as encantou, com o objectivo de as preservar de um possível cativeiro. Contudo o governador nessa noite conseguiu fugir para Tânger deixando as suas filhas para trás.

Mas este não conseguia viver feliz ao pensar na pouca sorte das suas pobres filhas. Até que num certo dia apareceu em Tânger um “carregamento” de escravos vindos de Portugal onde se encontrava um homem de Loulé, que o governador não hesitou em comprar.

Já no palacete o mouro perguntou ao Carpinteiro se ele não gostaria de voltar para perto da sua família, este sem perder um segundo disse que sim. Logo o mouro pegou num alguidar cheio de água dizendo ao louletano para ele se colocar de costas para o alguidar e saltar para o outro lado, prevenindo-o que se caísse dentro da água iria-se afogar no oceano, dando-lhe 3 pães (pães esses que continham a chave para o desencantamento das mouras) diz-lhe o que fazer com eles a fim de libertar as suas lindas filhas do encantamento a que foram sujeitas. O carpinteiro salta e como num passe de mágica chega a sua casa abraçando a sua mulher, logo de seguida ele vai até um canto da casa e esconde os 3 pães dentro de um baú.

Passado algum tempo mulher descobre os pães e fica desconfiada por ele estarem escondidos, então ela pega numa faca afim de ver se há alguma coisa dentro deles, espetando a faca num de imediato ela ouve um grito e as suas mãos enchem-se de sangue vindo do interior do pão.

Na véspera de S. João (dia para o encantamento ser quebrado) o carpinteiro estava indiferente à animação pois só pensava em cumprir a promessa por ele feita ao ex-governador, logo que pode pegou nos pães e foi até fonte. Chegando a altura certa este atira o 1º pão para a fonte e grita por Zara, a mais velha das irmãs e uma figura feminina sobe no espaço e desaparece diante dos seus olhos. Logo de seguida atira o 2º e grita por Lídia volta a aparece-lhe outra bela rapariga que desaparece no ar diante dele. Por fim atira o 3º e grita pela filha mais nova do ex-governador, nada acontece, ele volta a grita por Cassima e uma jovem moura aparece-lhe agarrada ao gargalo da fonte, que lhe diz que não pode sair dali devido a curiosidade da sua esposa. Ele pede-lhe desculpa em nome da sua pobre mulher, esta diz que a perdôa e que tem uma coisa para a mulher deste pois jamais poderá sair daquela fonte e atira um cinto bordado a ouro para as mãos do carpinteiro, enquanto desaparece no interior da fonte…

No caminho o Carpinteiro para ver melhor a beleza do cinto coloca-o em redor de um troco de um grande carvalho, mas de imediato a arvore cai por terra, cortada cerce pelo cinto fantástico.

Benzendo-se e rezando o carpinteiro compreende tudo: Cassima dera-lhe o cinto apenas para se vingar! Sua mulher ficaria cortada ao meio, como o carvalho gigantesco!…

Este correu para casa abraçou a mulher e nessa noite não consegui pregar olho com medo que a moura ali aparece-se, mas isso nunca aconteceu. Tal como a moura Cassima lhe dissera não mais poderia sair da fonte. Apenas por vezes, segundo se diz – principalmente nas vésperas de S. João – ela consegue agarrar-se ao gargalo da fonte, e mostrar sua beleza, e chorar a sua dor aos que se aventuram por até lá….

 

Nota:

 

1. Retirado do site "Lendas de Portugal"

 

2. A imagem apresentada intitula-se "Moura Cassima" e consiste num acrílico sobre tela da autoria do jovem algarvio João Espada.

29
Ago11

EXPOSIÇÃO DE JOÃO VAZ DE CARVALHO E JOÃO CASTRO E SILVA

Lígia Laginha

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Foi inaugurada este sábado, 27 de Agosto, pelas 19h00, a Exposição conjunta de João Vaz de Carvalho e João Castro e Silva, patente ao público na Galeria de Arte do Convento Espírito Santo, em Loulé, até 29 de Outubro.

João Vaz de Carvalho nasceu no Fundão em 1958. O contacto e vivências com a ruralidade envolvente viriam a marcar profundamente o seu trabalho e a sua linguagem pictórica. Nos anos 80, instala-se em Coimbra na oficina de Vasco Berardo, onde irá trabalhar entre 1981 e 1984 no desenho, na pintura e na cerâmica. É a partir de 1987 que começa a expor o seu trabalho, passou por inúmeras galerias, entre as quais, Altamira, Edicarte, Miron-Trema, Novo Século, entre outras.
Com vários trabalhos publicados em livros e na impressa nacional, por exemplo no “Diário de Notícias”, João Vaz de Carvalho é também uma presença constante na Bienal Ilustração Portuguesa, sendo o vencedor do 1º prémio Ilustrare 2005. Para além destes, tem participado também em outras exposições de referência na área da ilustração, como por exemplo o Prémio Stuart de desenho de Impressa e o World Press Cartoon.

 

 


Representar um corpo é isolar uma forma permanente que na realidade não existe, em que os ‘traços inalteráveis’ serão percepcionados num processo que tenta congelar o constante fluxo desse corpo, num estado de imutabilidade. Estes são os princípios que as obras de João Castro e Silva encerram na sua genialidade. 
A Exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 10h00 às 19h00, e aos sábados, das 9h30 às 14h00.

 

26
Ago11

Presidentes da Câmara Municipal de Loulé (V) - Francisco Guerreiro Barros

Lígia Laginha

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Hoje falamos de Francisco Guerreiro Barros, louletano que foi Presidente da Câmara Municipal de Loulé entre 1959 e 1961.

 

Francisco Guerreiro Barros nasceu em Loulé em 1993.

Fez na sua terra natal e no Seminário de São José, de Faro, os primeiros estudos. Abandona a vida eclesiástica, pelo advento da República, e matricula-se na Escola Primária Superior e na Escola do Magistério Primário da mesma cidade.

Dedicou-se ao comércio de frutos secos, ligado a uma importante firma louletano-farense.

Entretanto foi nomeado chefe da Secretaria do Liceu de Faro, em 1927, funções que exerceu durante alguns anos.

Foi igualmente vereador, vice-presidente e presidente da Câmara Municipal de Faro, presidente da Câmara Municipal de Loulé, membro da Direcção da Caixa de Providência e Abano de Família do Distrito de Faro, presidente do Rotary Clube de Faro e Presidente da Direcção do Grémio dos Exportadores de Frutos e Produtos Hortícolas do Algarve.

Colaborador assíduo da imprensa regional, cujos artigos abordam temas de cariz económico.

Terá tomado posse como Presidente da Câmara Municipal de Loulé no decurso do ano de 1959, sendo que surge como tal em documentação de 9 de Junho de 1960. Durante a sua presidência instala-se definitivamente a Biblioteca Municipal com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, no edifício dos Paços do Concelho. É dada continuidade ao trabalho no plano educacional, de construções de escolas e cursos nocturnos para adultos e de estudo de localização da Escola Industrial e Comercial de Faro.

Francisco Guerreiro Barros morreu em Faro no ano de 1974.

 

25
Ago11

Património Louletano (VII) - Ermida de Nossa Senhora da Conceição

Lígia Laginha

 

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Hoje voltamos a falar de património e a escolha recaiu sobre a Ermida de Nossa Senhora da Conceição:

 

As origens deste pequeno templo remontam a meados do século XVII. Pensava-se que tinha sido construído da parte de fora das muralhas medievais, adossado a uma das portas então existentes, no local onde as Visitações da Ordem Militar de São Tiago de 1565 referem ter existido um nicho. No entanto, novas revelações vieram pôr de parte esta suposição. 

Na sequência da Restauração da Independência, nas Cortes de 1646, D. João IV emitiu um voto de acção de graças, consagrando Nossa Senhora da Conceição padroeira de Portugal. Ordenou, então, que se colocasse às entradas das cidades e vilas uma lápide evocativa deste acontecimento. A lápide existente na fachada principal da Ermida de Nossa Senhora da Conceição de Loulé parece corresponder, não só aos desígnios do Rei D. João IV, mas também ao impulso que motivou a construção do templo, surgindo a data de 1656 como o ano provável do início das obras.
Para além dos elementos característicos do Estilo Chão, detectáveis na utilização da planta de nave única e na sobriedade da fachada, nomeadamente nos vãos e nos enrolamentos do ático, referem-se como especificidades deste templo, a ausência de capela-mor, o revestimento total da fachada da Ermida com cantaria e o encontrar-se ladeada por habitações.
Em meados do século seguinte, a Confraria de Nossa Senhora da Conceição das Portas da Vila foi responsável pela renovação da ornamentação interior da Ermida, resultando desta intervenção uma das mais interessantes manifestações artísticas setecentistas do Algarve. No entanto, algumas intervenções posteriores têm descaracterizado a ornamentação deste templo: a abertura de uma porta na parede do lado do evangelho e a consequente destruição de um dos painéis de azulejaria; a construção de um coro alto; a pilhagem de azulejos na parede do fundo e a completa destruição da pintura da cobertura, restando somente uma tela pintada e em mau estado de conservação.
Foi classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-Lei nº35443, de 2 de Janeiro de 1946.
Entre 1743 e 1747 foram eleitos como responsáveis desta Confraria, Diogo de Sousa e Sarre, para Juiz, Henrique da Costa Pestana, para Escrivão, e Brás Camacho Navarro, para Recebedor. Apresentavam como projecto ornamentar o interior do templo. Para tal contrataram, no dia 20 de Dezembro de 1743, com o escultor farense Miguel Nobre, a feitura do retábulo, pelo preço de 350 réis. O dito escultor deveria fazer esta obra "conforme o risco que se lhe entregou" e transportá-la de Faro para Loulé, dando o trabalho concluído até 1745.
Por sua vez, Diogo de Sousa e Sarre, o mais prestigiado pintor algarvio, comprometeu-se, juntamente com o seu colega de ofício, Rodrigo Correia Pincho, também morador em Loulé, a dourar, pintar, estofar e encarnar, não só a talha mas também as imagens do Arcanjo S. Miguel e do Anjo da Guarda, até ao dia da padroeira, no ano de 1747.
O retábulo, enquanto elemento proeminente do conjunto arquitectónico, determinou o programa decorativo a realizar. A "cornija" de Talha, que percorre as paredes da Ermida, é a continuação do entablamento do retábulo e serve de delimitação aos painéis de azulejaria figurativa, cujo esquema iconográfico é a continuação da temática mariana, já apresentada no retábulo.
Atendendo a que a talha deveria estar colocada no seu lugar até Dezembro de 1745, é natural que a azulejaria tenha sido posta simultaneamente, desconhecendo-se não só a oficina lisboeta que a realizou, mas também o mestre local que a encomendou e assentou.
Os azulejos apresentam já alguns elementos do formulário rocaille, nomeadamente nos concheados das cercaduras das cartelas, onde se lêem inscrições latinas.
O esquema iconográfico apresentado no retábulo, permite-nos conhecer as devoções desta Confraria e, particularmente, dos seus responsáveis.
O local das diversas representações escultóricas obedece a uma hierarquia. A imagem de Nossa Senhora da Conceição, orago deste templo, ocupa o lugar principal, no centro da tribuna. Segue-se o Menino Jesus, colocado no nicho superior. Depois surge Sant'Ana, a mãe da Virgem, no centro da banqueta. O pai e o marido da Virgem, respectivamente, S. Joaquim e S. José, preenchem as peanhas dos intercolúneos. Finalmente, sem ligação com a temática mariana, o Anjo da Guarda e o Arcanjo S. Miguel estão na banqueta ao lado de Sant'Ana.
Pelas afinidades formais de todas estas esculturas com as restantes representações figurativas existentes no retábulo, pode-se deduzir terem sido feitas pelo mesmo entalhador, o mestre Miguel Nobre.
Na "Monografia do Concelho de Loulé", Ataíde de Oliveira refere que "o tecto desta Ermida em 1841 estava maravilhosamente pintado pelo insigne pintor desta vila, o célebre Joaquim José Rasquinho. Hoje essa pintura foi substituída por trabalho a gesso (...) tendo ao centro um lindo quadro alusivo à assumpção da Virgem, obra do nosso insigne pintor Rasquinho, e que, antes da reforma do tecto, já ali existia".
É provável que a cobertura deste templo apresentasse uma ornamentação coeva e semelhante à que hoje existe na Ermida de Nª Srª da Piedade, em Loulé, onde no meio da pintura em perspectiva e do período rocaille, pontua uma tela respeitante à padroeira.

A Câmara Municipal de Loulé, conjuntamente com a Paróquia de S. Clemente, candidatou a Ermida de Nossa Senhora da Conceição, de Loulé, ao Prémio Igreja Segura, organizado por várias entidades nacionais, entre elas o Instituto Superior de Polícia Judiciária. Após o concelho de Loulé ter ganho o Prémio Igreja Segura, no ano de 2005, a autarquia começou a desenvolver esforços para a recuperação do referido espaço. No ano de 2007 iniciaram as obras de conservação e restauro das estruturas interiores e exteriores. Durante este período procederam-se a escavações no interior deste espaço religioso, que vieram a revelar a existência da Porta de Portugal (uma das portas do castelo, cuja localização era desconhecida) no interior da Ermida. No mesmo período, quando se estava a retirar o reboco da parede de fundo da sacristia, ficou a descoberto um dos torreões do castelo.

No dia 29 de Novembro, de 2008, pelas 15h, procedeu-se à cerimónia de inauguração do restauro da Ermida de Nossa Senhora da Conceição, tendo sido apresentado o livro “Plano de Emergência Interno. Projecto Igreja Segura – Igreja Aberta”, mais um instrumento para a salvaguarda e protecção do património material.

 

Nota:

 

A Ermida de Nossa Senhora situa-se na Rua Dom Paio Peres, em Loulé, e pode ser visitada nos seguintes horários*:

 

- De segunda a sexta: das 10h00 ao 12h30 e das 14h às 19h

 

- Sábados: Das 9h30 às 14h.

 

* Estes horários correspondem ao periodo de Verão que decorre até 17 de Setembro. 

24
Ago11

O que os algarvios comem (XIII) - Figos cheios

Lígia Laginha

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Hoje continuamos a falar dos frutos secos e trago-vos uma das iguarias algarvias que mais se confeccionam com os mesmos: Figos cheios.

 

Então, segundo a Confraria dos Gastrónomos do Algarve, aqui fica a receita:

 

Ingredientes:

Para cerca de 40 figos

  • 1 kg de figos secos ;
  • 250 grs de amêndoa ;
  • 125 grs de açúcar ;
  • 25 grs de chocolate em pó ;
  • 2,5 grs de erva doce ;
  • raspa de limão q.b. ;
  • canela q.b.

Confecção:

A amêndoa é moída. Junta-se-lhe o açúcar, o chocolate, a canela, a erva-doce, a raspa de limão e mistura-se tudo muito bem.
Pega-se nos figos e puxa-se o pé de modo que fiquem com uma forma alongada.
Com uma faca afiada dá-se-lhes um golpe vertical. Por esta abertura enchem-se os figos.
Fecham-se e disfarçam-se por onde foram recheados.
Levam-se ao forno a torrar.

 

Nota:

 

1. Para os figos serem cheios devem ser postos a secar anteriormente, isto é, ser dispostos sobre esteiras de cana ao sol até estar prontos para suportar o corte e serem cheios com a amêndoa e restantes ingredientes;

 

2. Os figos não têm necessáriamente de ser cheios com esta mistura. Há quem os encha apenas com miolo de amêndoa, inteiro ou corto ao meio. Podem também, ao invés de lhes dar um golpe vertical, dar-lhe a forma de uma estrela e colocar-lhe posteriormente os miolos de amêndoa;

 

 

 

 

3. Normalmente, depois de torrados os figos são unidos entre si por uma linha formando uma espécie de colar;

 

4. Bom apetite!

23
Ago11

A época do varejo

Lígia Laginha

 

 

Outrora principal actividade económica do interior algarvio, a cultura dos frutos secos, com destaque para a alfarroba, para a amêndoa e para o figo, continua a ser um dos símbolos do Algarve. Ainda que já poucos se dediquem ao trabalho no campo, chegado o mês de Agosto pode ouvir-se o som do varejo (assim se chama no Algarve a apanha dos frutos secos) um pouco por toda a terra marafada. O varejo é um trabalho duro, não tão duro como no passado devido às melhorias em termos de transporte dos frutos desde do local da apanha até ao sitio onde serão armazenados, e marcadamente manual.

Para o varejo convêm ir logo de manhã bem cedinho, pois a essa hora o calor ainda não aperta, e levar uma bucha, ou seja, uma espécie de lanche que pode consistir num bocado de pão, azeitonas, peixe frito ou toucinho e é consumido quando se faz uma pequena pausa no trabalho. A bucha é geralmente uma altura de convivio entre aqueles que "andam à alfarroba". 

 

Mas afinal o que é o varejo?


O varejo ou apanha dos frutos secos é feito como uma vara bem comprida, de madeira ou de cana, que é utilizada para sacudir os ramos das árvores (varejar) e fazer cair os frutos das mesmas. Os frutos caem no chão, previamente limpo (nós dizemos “arraspar as farrobeiras”), ou então sobre toldos, isto é, panos que são colocados no chão antes de começar a varejar.

Depois de apanhados, os frutos são transportados em alcofas de empreita até aos recipientes próprios onde ficarão armazenados. No caso das alfarrobas e das amêndoas esses recipientes são sacas de linho ou serapilheira, no caso dos figos usam-se canastras grandes de vime e cana.

Para transportar os frutos desde da terra até casa utilizam-se maioritariamente tractores agrícolas, contudo, antigamente, na falta destes transportes, recorria-se aos burros e às mulas.

Chegadas a casa do agricultor, as alfarrobas são guardadas tal qual como se encontram, isto é, ensacadas, já as amêndoas têm de ser descascadas, ou seja, é-lhes retirada a casta externa e depois são colocadas ao sol. Os figos, na sua maioria, são igualmente colocados ao sol sobre esteiras de cana. No passado as pessoas reservavam um sítio próprio no quintal para colocar as esteiras com os figos, a este sítio chamava-se “almenchar”.

Futuramente estes frutos secos, sobretudo a alfarroba, são vendidos a comerciantes que pagam um determinado valor por cada arroba (15 quilos).

Dantes considerava-se o dia 29 de Setembro, dia de São Miguel, como o dia oficial em que terminava o “varejo” e se iniciava o chamado “rabisco”. O rabisco era uma época em que se considerava que os frutos ainda presentes nas árvores já não seriam colhidos pelos seus proprietários e por isso qualquer pessoa o podia fazer.

E é isto o varejo: Uma marca das gentes marafadas que nos dias mais quentes de Verão açoitam as alfarrobeiras e fazem o negro fruto cair no chão.

 

Nota:

 

1. Na imagem podemos ver alguns dos utensílios do varejo como são a vara, os toldos ou panos, as sacas e a alcofa.

 

 

 

22
Ago11

Paisagem Protegida Local da Fonte Benémola

Lígia Laginha

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

O Concelho de Loulé possui cerca de 51,3 % da sua superfície classificada como área protegida, incluindo as áreas correspondentes às Áreas protegidas de Âmbito Local (paisagem Protegida Local da rocha da Pena e Paisagem Protegida Local da Fonte Benémola), Parque Natural da Ria Formosa e Rede Natura 2000.

 

A Paisagem Protegida Local da Fonte Benémola fica situada nas Freguesias de Querença e Tôr, ocupando uma área de 392ha, em pleno Barrocal Algarvio. A área protegida é atravessada pela Ribeira da Menalva, onde existe água durante todo o ano, o que contribui para que a sua fauna e flora seja rica e diversificada.

Existem mais de 300 espécies diferentes de plantas nesta Paisagem Protegida Local. O facto de existirem solos xistosos, solos calcários e uma ribeira tem contribuído para esta variedade. Além da flora existem também mais de 100 espécies de aves que fazem os seus ninhos nas encostas do vale e nas margens da ribeira, dos quais se destaca o Guarda Rios, Abelharuco e a Águia de Bonelli.

O património construído desta Paisagem Protegida está ligado à água, nomeadamente o moinho de água, as levadas, as noras e os açudes.

 

Nota:

 

1. Aqui fica o link para quem estiver interessado em  saber mais sobre a Fonte  Benémola: http://www.cmloule.pt/upload_files/client_id_1/website_id_1/files/Ambiente/flt_fonte_benemola.pdf

21
Ago11

O Centro Interpretativo dos Frutos Secos

Lígia Laginha

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

A alfarroba, os figos e a amêndoa têm tido ao longo dos tempos um papel bastante importante na economia do Algarve. Embora em diminuição essa importância continua a existir pois os frutos secos são parte fulcral da nossa doçaria e, em suma, das nossa tradições.

 

Neste sentido existe em Loulé, localizado na Rua Gil Vicente, n.º14, um Centro Interpretativo dos Frutos Secos. Este Centro, que foi inaugurado em Dezembro de 1998, apresenta uma pequena unidade fabril de produção e comercialização de frutos secos desactivada na década de oitenta do século passado. A empresa de “Francisco Joaquim Bota & Filhos, Lda”, cuja sociedade por quotas foi estabelecida a 1 de Julho de 1943, estava vocacionada para a transformação e comercialização de figos, amêndoas e alfarrobas.

O Centro Interpretativo é composto por um único espaço de exposição de longa duração. No espaço expositivo pode observar-se uma máquina de partir amêndoa e uma máquina de triturar alfarroba, para além de alguns exemplares de frutos secos, fotografias e gravuras alusivas aos trabalhos de varejo e apanha desses frutos secos, os quais possibilitam aos visitantes o contacto directo com os processos tradicionais e uma melhor compreensão e conhecimento desta actividade socioeconómica no concelho de Loulé.

 

Nota:

 

1. Em plena época de varejo (os frutos secos para cairem da árvore-mãe têm de ser varejados, normalmente com uma cana comprida) aqui fica uma interessante sugestão. Visitem este Centro que está aberto nos dias úteis das 9h00 ao 12h30 e das 14h00 às 17h30. Aos sábados podem visitar esta exposição das 10h às 13h00.

 

2. A imagem publicada mostra uma máquina de partir amêndoas, máquina esta que pode ser observada no Centro Interpretativo de Frutos Secos.

 

 

 

20
Ago11

O Cine Teatro Louletano

Lígia Laginha

 

 

Bom dia caros visitantes do "Marafações de uma Louletana".

 

Hoje falamos de um ex-libris da Cidade de Loulé: O Cine Teatro Louletano

 

O Cine Teatro manteve-se ao longo de 75 anos de existência como propriedade da Sociedade Teatral Louletana, constituída em 1925 com o objectivo de “construir um teatro e suas dependências, a respectiva exploração em todas as suas manifestações de arte dramática, lírica, cinematográfica, concertos musicais, serões e conferências artísticas e em tudo o mais que lhe é próprio, excepto comícios políticos”. De entre o nome dos seus fundadores estavam Alberto Rodrigues Formosinho, António Maria Frutuoso da Silva, Artur Gomes Pablos, David Evaristo d'Aragão Teixeira, Dr. Joaquim Cândido Pereira de Magalhães e Silva, José da Costa Ascenção,José da Costa Guerreiro, José Martins Júnior e Manuel dos Santos Pinheiro Júnior que investiram um capital social de 180 contos divididos em nove quotas de 20 contos, ao qual se juntaram dois terrenos, um deles adquirido em hasta pública à Câmara Municipal de Loulé.

A inauguração oficial do teatro deu-se a 19 de Abril de 1930 mas, entre 15 e 23 de Março, já funcionara como cinema.

Na inauguração actuou a Companhia Teatral, da grande actriz Ilda Stichini, da qual faziam parte os artistas Clemente Pinto, Luz Veloso, Luís Prieto, Joaquim Oliveira, Alves da Costa, Maria Lagoa, Fernanda de Sousa e outros mais. Apresentaram a peça “Se eu quisesse”; no segundo dia “Os Filhos” e no terceiro “O Tambor e o Guiso”.

Para além das autoridades concelhias, estiveram, presentes nesta cerimónia autoridades distritais como o Governador Civil, o Secretário Geral e outras, além de muitos populares de Faro, Olhão, S. Brás, etc..

Durante décadas passaram por este palco grandes figuras da cena como Alves da Cunha, Berta de Bívar, Chaby Pinheiro, companhias de revista, etc., e mais recentemente alguns dos melhores actores nacionais como Maria do Céu Guerra ou Raul Solnado.

No que concerne ao cinema, foram ali projectadas películas de fama mundial que encheram por completo aquela que é considerada a mais importante sala de espectáculos do Algarve.

Após vários anos de negociação difícil e burocrática com os proprietários do Cine Teatro Louletano, a Câmara Municipal de Loulé adquiriu, em 2003, este ex-líbris cultural da cidade, do concelho e de toda a região. Ao longo dos tempos, o papel desempenhado pela autarquia em termos de promoção dos eventos realizados neste espaço, bem como da manutenção do edifício, foi fundamental para que o Cine Teatro não fechasse as suas portas ou não chegasse mesmo a ser demolido, apesar deste ser um edifício de domínio privado.

Ao longo dos anos, a Câmara Municipal tem levado a efeito obras de conservação e modernização deste imóvel de forma a satisfazer as exigências dos espectáculos de qualidade que, cada vez mais, farão parte do cartaz de animação deste local, com excelentes condições acústicas e de espaço para acolher grandes eventos, oferecendo uma maior comodidade aos seus usufruidores.

 

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